Projeto tem garantido sobrevivência de filhote na Serra da Canastra (Foto: Rogério Cunha/Divulgação)
Um projeto tem garantido a sobrevivência de um filhote de lobo-guará, que foi resgatado em dezembro do ano passado após uma queimada na Serra da Canastra. O animal está sendo preparado para ser solto em seu habitat natural, o que deve ocorrer até novembro deste ano.
A ação envolve o Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos (Cenap), o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e o Instituto Pró-Carnívoros, que acumulam 13 anos de pesquisas e ações práticas direcionadas à conservação do lobo-guará em toda extensão da Serra da Canastra.
Animal fica em uma área monitorada por câmeras (Foto: ICMBio/CENAP/Divulgação)
Segundo o biólogo, pesquisador e lider da ação, Rogério Cunha, o animal, que ainda não recebeu um nome, foi resgatado em dezembro de 2016 com quatro meses de vida. A lobinha sobreviveu a uma queimada ocorrida na região da Canastra. Desde então, foi levada para uma propriedade privada onde é constantemente monitorada por 12 câmeras.
"Imagine que você é um filhote e teve sua casa queimada. Você não sabe onde estão seus pais, está assustado e precisando muito de cuidados. Sua espécie está ameaçada de extinção e você precisa voltar para a natureza para mudar essa história. Estamos preparando o animal para que ele seja liberado e consiga sobreviver em seu habitat natural", destacou Rogério Cunha.
Lobinha foi resgatada quando tinha quatro meses de vida (Foto: Rogério Cunha/Divulgação)
Ainda muito filhote e com a possível perda dos pais, o animal não aprendeu a caçar, se proteger de predadores e ser forte como toda espécie de lobo-guará. É exatamente nesse sentido que atuam os envolvidos na campanha denominada "Amigos da Lobinha". Um grupo de biólogos e pesquisadores auxilia com cuidados e ensinamentos ao animal. Contudo, todas as atividades são feitas de longe e monitoradas para que a lobinha não se acostume com a presença humana.
"Os lobos têm sua dieta em frutas e presas vivas, como codornas e ratinhos. Diante disso, estamos treinando esse animal para que ele aprenda a caçar. Dessa maneira a comida dessa loba é escondida no cercado, forçando que ela procure esse alimento. Lembrando que são sempre alimentos que ela encontrará em seu habitat quando for solta", explica o biólogo.
"Geralmente quando há um resgate de um animal nessa situação ele é tratado com mamadeira, ração e cuidados com humanos mais próximos. Nossa intenção nesta ocasião foi fazer diferente para que esse animal esteja pronto para viver sozinho no cerrado", completou Rogério Cunha.
Animal tem sido treinado para ser liberado em seu habitat natural (Foto: ICMBio/CENAP/Divulgação)
Doações para a campanha 'Amigos da Lobinha'
O grupo precisou montar toda estrutura de monitoramento com câmeras para mensuração de dados para a pesquisa, e por isso, precisa de apoio financeiro. Quando for solto, o animal continuará sendo monitorado por meio de uma coleira, chamada de rádio-colar. Esse dispositivo fornece dados que servem para auxiliar na compreensão dos hábitos dentro e fora do parque. Essas análises são úteis na tomada de atitudes em prol da conservação da espécie.
Para que estes gastos sejam supridos de forma sustentável, integrantes da ação lançaram na internet a campanha "Amigos da Lobinha". Em um site eles contam a história do animal e pedem a colaboração das pessoas com a compra de materiais ou mesmo doação em dinheiro. Todo valor arrecadado será destinado ao projeto piloto de "escola de sobrevivência" do filhote.
Lobinha está hoje com um ano e oito meses (Foto: Rogério Cunha/Divulgação)
Projeto 'Sou amigo do Lobo'
Seguindo um documento oficial de plano de ações para conservação do lobo, Rogério Cunha trabalha com uma equipe especializada desde 2005. Eles tratam da educação ambiental em São Roque de Minas e no entorno do Parque Nacional da Serra da Canastra. O objetivo é de conscientizar os populares sobre a importância do animal na região.
Embora algumas pessoas abominem a presença dos lobos, pelo simples fato desses animais comerem galinhas, Rogério disse que eles precisam sempre serem tolerantes ao animal. “Essa tolerância reflete no equilíbrio ambiental. Sempre dizemos que o lobo é um forte instrumento de reflorestamento do cerrado. Ele come muitas frutas e percorre a região disseminando as sementes pelas fezes, o que o torna um grande recuperador do cerrado” afirmou.
Segundo Rogério, existem cerca de 160 lobos em toda a região do Parque Nacional da Serra da Canastra. "As ações em andamento do projeto "Sou amigo do Lobo" estão vinculadas à propostas de pesquisa, mensuração de impactos, educação ambiental, aumento e disseminação do conhecimento sobre a espécie; além da melhora da relação da comunidade com os lobos da Serra da Canastra", ressaltou.
Outras doações que possam viabilizar a preservação da espécie na Serra da Canastra podem ser feitas no site do projeto Pró Carnívoros.
Existem cerca de 160 lobos na região da Serra da Canastra, informou biólogo (Foto: Adriano Gambarini/Divulgação)
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