O Ministério Público Federal (MPF) e a Defensoria Pública da União (DPU) entraram com uma ação civil pública contra o governo de Roraima pela retirada de quase 400 venezuelanos de um acampamento na rua para um ginásio improvisado como abrigo. A ação foi protocolada nessa terça-feira (31) na Justiça Federal em Roraima.
A retirada dos imigrantes ocorreu no último sábado (28) e foi classificada pelo MPF e pela DPU como uma "remoção forçada". No entendimento das instituições, os estrangeiros tinham que ter sido consultados se queriam ser retirados da rua.
O G1 fez contato com a Secretaria de Comunicação de Roraima e aguarda retorno.
A ação pede indenização por dano moral coletivo no valor de R$ 800 mil e leva em consideração que os venezuelanos levados ao abrigo reclamam que o local não tem estrutura e segurança para a permanência deles.
Após a transferência dos venezuelanos acampados para o ginásio, a Defesa Civil decidiu separar índios e não-índios entre os dois abrigos já montados em Boa Vista. Os imigrantes indígenas ficara no abrigo do bairro Pintolândia e os não-índios no alojamento do bairro Tancredo Neves.
Sobre a remoção dos estrangeiros das ruas, as instituições relatam que às 6h30 de sábado, um grupo de PMs e bombeiros forçaram os migrantes que viviam em torno da Rodoviária Internacional de Boa Vista, no bairro 13 de setembro, na zona Sul de Boa Vista, a se deslocarem para o abrigo montado no ginásio poliesportivo Tancredo Neves, na zona Oeste da cidade.
Ficou constatado, segundo o MPF e a DPU, que a operação não contou com a participação de órgãos de assistência social do estado, apesar dos alvos serem pessoas em extremo estado de vulnerabilidade.
No entendimento dos procuradores e defensores, os venezuelanos não podem ser impedidos de viver na rua, já que não tem moradia onde possam permanecer dignamente, e que qualquer ação de remoção deve ser combinada e ter a permissão prévia das pessoas, o que não ocorreu na ocasião.
A ação ressalta também que o MPF em Roraima já havia alertado a Defesa Civil, em reunião, sobre possíveis ilegalidades de remoção forçada.
Ainda na ação, os órgãos pedem que o estado seja proibido de fazer novas remoções forçadas ou que impeça os venezuelanos de deixarem o ginásio para onde foram levados.
No caso de novas operações, foi solicitado à Justiça que sejam garantidos os direitos dos migrantes, como a necessidade de anuência por parte dos indivíduos, informações sobre o local para onde serão levados, vedação ao uso da força policial como instrumento de coação e necessidade de prévia organização da remoção acordada, com a atuação de órgãos competentes como conselhos tutelares e a Fundação Nacional do Índio.
Más condições de abrigo
No relato feito por migrantes, depois do deslocamento forçado, o abrigo para o qual foram levados estava sujo e não dispunha de abastecimento de água. Não havia alimentos ou água para consumo, apesar da presença de crianças e idosos enfermos.
Assim, a ação ajuizada pede que o estado ofereça condições mínimas para os migrantes nos abrigos, com estrutura física, com água e eletricidade, bem como com banheiros funcionais, policiamento e portões para manutenção de controle de entrada e saída de pessoas.
Venezuelanos em Roraima
O número de solicitações de refúgio de venezuelanos em Roraima chegou a marca dos 12.193 pedidos de janeiro a setembro de 2017. Com o aumento da crise economômica e política no país vizinho neste ano, a procura é quase cinco vezes maior que a soma de todos os pedidos feitos de 2014 a 2016.
Já o governo do estado estima que 30 mil venezuelanos entraram em Roraima desde 2016. A imigração cresce conforme a crise na Venezuela se alastra nos setores de emprego, alimentos e remédios.
Conforme dados divulgados pela Polícia Federal em Roraima, a maioria dos venezuelanos que migram para o estado são de Caracas, capital do país. Mais de 58% são homens e jovens entre 22 e 25 anos. A maior parte deles são estudantes (17,93%), seguidos por economistas (7,83%), engenheiros (6,21%), e médicos (4,83%).
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