segunda-feira, 20 de março de 2017

Climatizadores instalados em igreja geram polêmica em Divinópolis

Climatizadores são instalados no Santuário de Santo Antônio em Divinópolis (Foto: Flávio Flora/Agora)Operários instalam climatizadores no Santuário de Santo Antônio (Foto: Flávio Flora/Agora)

Um sistema de climatização instalado no Santuário de Santo Antônio, em Divinópolis, tem causado preocupação para o Conselho do Patrimônio Histórico, Artístico e Paisagístico (Conphap). Apesar de o equipamento diminuir o calor durante as missas celebradas no templo, o uso dele pode oferecer riscos à pintura interna, que é formada por afrescos tombados.

O conjunto de equipamentos começou a funcionar no dia 10 de março e para evitar problemas, uma alerta foi feita à Promotoria de Justiça de Meio Ambiente e Patrimônio Cultural, que pediu explicações à paróquia.

Optamos por instalar o climatizador evaporativo, que não lança gotas de água junto com o ar, uma vez que a água é utilizada para umedecer colmeias de celulose que se localizam atrás da hélice.
Anisio Fonseca de Azevedo, membro do Conselho Paroquial Administrativo

De acordo com Anisio Fonseca de Azevedo, que integra o Conselho Paroquial Administrativo e que coordenou as obras de instalação dos climatizadores, muitos fieis reclamavam do calor que sentiam durante missas.

"Após diversos estudos, optamos por instalar o climatizador evaporativo, que não lança gotas de água junto com o ar, uma vez que a água é utilizada para umedecer colmeias de celulose que se localizam atrás da hélice", explicou, acrescentando que os aparelhos serão usados apenas durante eventos.

Mas, o Conphap questiona essa afirmação. Quando começou a funcionar, integrantes do órgão estiveram no Santuário para verificar o funcionamento dos climatizadores, que começou a ocorrer em fase de testes.

João Batista Rodrigues, arquiteto e consultor do órgão, explicou que um técnico emitido pela empresa que fabrica os climatizadores indica que ele funciona criando umidade dentro do imóvel. "Isso não vai gerar um efeito colateral na pintura interna de um dia para o outro. Mas, a médio prazo, de mais ou menos um ano, vão surgir umidade e mofo na pintura. Isso vai ser um dano ao patrimônio", afirmou.

Integrantes do Conphap inspecionam instalação de climatizadores no Santuário em Divinópolis (Foto: Flávio Flora/Agora)Karine Mileibe, Sonia Terra e João Batista verificam 
instalação de aparelhos (Foto: Flávio Flora/Agora)

Karine Mileibe, historiadora e secretária do Conphap, afirma que o órgão não foi consultado sobre a instalação antes de as obras começarem. De acordo com ela, o órgão precisa ser consultado sempre que alguém pensa em executar uma mudança ou alteração em bens tombados pelo patrimônio histórico e cultural.

"A pintura interna, feita em 1988, é tombada pelo Município. Isso a torna protegida por lei, sendo proibida toda e qualquer descaracterização. Algo que pode danificar a pintura interna a longo prazo precisa ser avaliado", acrescentou.

A presidente do Conphap, Sonia Terra, disse que os motivos alegados pelo arquiteto e pela historiadora apontam incertezas técnicas da obra e possíveis consequências ruins dela. Por isso, um pedido de ajuda foi enviado ao Ministério Público. "Consideramos a instalação desses climatizadores como um crime contra a cultura. Por isso, enviamos um ofício à Promotoria de Justiça de Patrimônio Cultural. Ainda não manifestaram nada", comentou.

Santuário de Divinópolis (Foto: Flávio Flora/Agora)Vista externa do Santuário de Santo Antônio após instalação de climatizadores (Foto: Flávio Flora/Agora)

Especialista em restauro
O G1 ouviu também a restauradora Thaís Gontijo Venuco. Formada em Conservação e Restauro pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e mestranda em Ambientes Construídos pela Escola de Arquitetura da mesma instituição, ela atua como gerente de Memória e Patrimônio da Secretaria de Cultura de Divinópolis e conhece as características da pintura interna do Santuário.

A pintura vai sofrer constantes variações de temperatura. A pintura interna do Santuário é feita com caseína, que é uma proteína do leite. É uma técnica muito sensível.
Thaís Gontijo Venuco, restauradora

"Conforme foi dito pelo responsável pela instalação dos climatizadores, os equipamentos não vão expelir água como ocorre em um ar-condicionado. Mas, o resfriamento do ar é feito por uma colmeia por onde a água passa. Através disso, entra umidade não em forma líquida, mas em vapor. Quando o ar quente entrar em contato com a superfície fria, pode ocorrer condensação de água. O dano que isso pode causar não é visível de hoje para amanhã. É algo que ocorre a longo prazo", justificou.

A especialista critica também a afirmação de que os climatizadores só serão ligados durante as missas. "Isso gera um problema ainda maior, porque a pintura vai sofrer constantes variações de temperatura. A pintura interna do Santuário é feita com caseína, que é uma proteína do leite. É uma técnica muito sensível", acrescentou. 

Climatizadores são instalados no Santuário de Santo Antônio em Divinópolis (Foto: Flávio Flora/Agora)Climatizador instalado no Santuário de Santo Antônio
(Foto: Flávio Flora/Agora)

Anisio Fonseca de Azevedo, do Conselho Patrimonial Administrativo, rebateu as críticas à instalação dos climatizadores. "Para que ocorra danos a qualquer estrutura decorativa, mobília ou equipamentos, o ar precisaria estar saturado para assim molhar o ambiente. Como o processo resfria o ar através da evaporação da água, com certeza o mesmo fica carregado com um percentual de umidade levemente acima do ambiente externo, podendo a umidade do ar no interior varia na média entre 40% a 70%. Para este sistema manter o ambiente climatizado com eficiência e não deixar o ar úmido saturar no ambiente, deverão ser mantidas as portas e janelas abertas para ocorrer a renovação de ar. Sem a saturação do ar com umidade, como já dito anteriormente, não haverá dano algum à estrutura, pintura, afrescos e equipamentos dentro do Santuário", acrescentou.

O G1 tentou contato com a 12ª Promotoria de Justiça, que integra a Promotoria de Meio Ambiente e Patrimônio Cultural, mas não obteve retorno. Na tarde desta segunda-feira (20), Anisio Azevedo disse à reportagem que recebeu do Ministério Público um pedido de explicações sobre a instalação dos climatizadores. "Todas as informações que temos estão sendo repassadas. Nós somos os maiores interessados na preservação do Santuário", finalizou.

Climatizadores são instalados no Santuário de Santo Antônio em Divinópolis (Foto: Flávio Flora/Agora)Plásticos protegem paredes durante obras para instalação de climatizadores no Santuário de Santo Antônio
em Divinópolis (Foto: Flávio Flora/Agora)
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