sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

Infectado com HIV há 15 anos, mineiro relata medo e preconceito: 'Cheguei a escolher meu caixão pra morrer'

Sexo desprotegido continua sendo maior causa de infectação na faixa entre 16 e 29 anos em Uberlândia (Foto: Caroline Aleixo/G1)Sexo desprotegido continua sendo maior causa de infectação na faixa entre 16 e 29 anos em Uberlândia (Foto: Caroline Aleixo/G1)

Sexo desprotegido continua sendo maior causa de infectação na faixa entre 16 e 29 anos em Uberlândia (Foto: Caroline Aleixo/G1)

Uberlândia tem mais de 3.600 casos de diagnóstico da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (Aids), cujo Dia Mundial de Combate é comemorado nesta sexta-feira (1º). Entre as estatísticas, está a de um pedreiro , de 38 anos, que há 15 foi infectado com o vírus HIV. Do teste positivo à prevenção, a luta do paciente contra a doença ainda é acompanhada pelo medo do preconceito.

Uma reportagem sobre a doença despertou nele o interesse em fazer o teste de HIV, como forma de prevenção. Daquela iniciativa, veio o parecer médico que dava apenas seis anos de expectativa de vida.

“Eu tive muito medo e não queria fazer nenhum tipo de tratamento. Foram anos de uma depressão profunda. Fui demitido do emprego, não conseguia mais me relacionar com ninguém e, por isso, tentei quatro suicídios, ficando internado na psiquiatria. Cheguei a fazer convênio funerário e escolher meu caixão pra morrer”, contou o paciente.

O apoio de uma médica infectologista e o nascimento do filho deram ao paciente uma nova perspectiva. Ele passou a entender que precisava sobreviver e iniciou o tratamento cinco anos mais tarde. Voltou a trabalhar, recebeu o apoio de familiares e de muitos amigos. No entanto, ainda sofre com a discriminação da sociedade.

O pedreiro preferiu ter os dados pessoais alterados na reportagem , justamente para preservar a identidade, uma vez que nem todos do convívio social dele sabem sobre a doença. “Eu gostaria de citar meu nome e colocar meu rosto, mas infelizmente ainda não é possível. Quem sabe em um futuro próximo”, concluiu.

Solidariedade que salva vidas

É por histórias como a do pedreiro e pela seriedade do problema que muitas pessoas se dispõem a abraçar a causa, promovendo a esperança e a conscientização.

O presidente da Rede Nacional de Pessoas Vivendo Com HIV/Aids (RNP), Edval Dias Cantuário, sempre se dedicou ao voluntariado em Uberlândia e foi em uma dessas visitas como assessor parlamentar, em 2000, que ele se encantou pelo trabalho desenvolvido pela Organização Não-Governamental (ONG).

“Tem 30 anos que trabalho com o terceiro setor em Uberlândia e eu comecei a enxergar que o preconceito na Aids e HIV era maior do que em outros segmentos. Senti que era aqui que eu poderia contribuir mais, então me voluntariei e fui estudar para me especializar, poder palestrar sobre assunto e acolher esses pacientes”, afirmou.

Edval Cantuário ministra palestras sobre o tema e ajuda no atendimento a portadores em Uberlândia (Foto: Caroline Aleixo/G1)Edval Cantuário ministra palestras sobre o tema e ajuda no atendimento a portadores em Uberlândia (Foto: Caroline Aleixo/G1)

Edval Cantuário ministra palestras sobre o tema e ajuda no atendimento a portadores em Uberlândia (Foto: Caroline Aleixo/G1)

Na opinião do voluntário, o maior problema não está na falta de informação, mas no preconceito, começando pelo medo de assumir a doença. Datas como o Dia Mundial de Luta contra a Aids servem para reforçar a prevenção e ampliar o debate sobre o tema.

“Só se quebra preconceito quando se fala sobre a Aids. Hoje não é um dia para se comemorar, a gente não comemora uma doença que não tem cura. Hoje é um dia de refletir que a prevenção está em nossas mãos e que ela precisa ser constante”, reforçou Cantuário.

Contaminação não significa morte

Dados do Programa de Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST/Aids) mostram que 3.640 adultos e 23 crianças já foram diagnosticados com a doença em Uberlândia. Em 2016, foram 622 notificações e, até outubro desse ano, 377 novos casos de Aids.

De acordo com a coordenadora municipal do programa, Cláudia Spirandelli, o sexo sem uso de preservativos continua como uma das principais causas de transmissão da doença, que acomete, principalmente, o público de adolescentes e jovens, com faixa etária de 16 a 29 anos.

“A Aids é uma doença crônica, mas com tratamento e prevenção corretos consegue se viver bem. O diagnóstico não quer dizer que está morrendo, quer dizer que é preciso repensar o modo de vida e não se dar o direito de pegar mais nada por meio do sexo desprotegido”, orientou.

O diagnóstico precoce também é importante no tratamento da doença. Na cidade, são realizados aproximadamente 600 testes por mês.

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