segunda-feira, 25 de dezembro de 2017

Projeto transforma presos em artesãos de móveis reciclados na Cadeia de Boa Vista

Presos de Roraima estão aprendendo a transformar pneus usados em móveis artesanais. O trabalho, que funciona como terapia ocupacional, fonte de renda e remição de pena, é feito na Cadeia Pública de Boa Vista, na zona Sul da capital.

Denominado Agroarte, o projeto reúne exatos 24 homens e funciona de segunda a sexta numa área interna da unidade. Por opção dos próprios detentos, feriados são dias normais de trabalho que duram até 7h.

Preso há dois anos por homicídio, Wellington Amazonas, 28, é um dos detentos que participam do projeto desde o íncio dele, em outubro deste ano.

Ele diz que o trabalho, que faz questão de descrever como maravilhoso, é uma oportunidade única para quem se acostumou a passar até 22 horas por dia dentro de uma cela.

“Estamos mudando de vida. Muita gente não acredita na nossa capacidade de ressocialização, acham que nós somos lixo. Mas aqui estamos nós, o ‘lixo’ reciclando o lixo”, descreve Amazonas.

As peças produzidas pelos presidiários tem variados tamanhos e modelos. Há mesas, cadeiras, vasos, lixeiras e até jarros. Tudo é feito com pneus velhos doados por borracharias que apoiam a iniciativa.

Preso diz que projeto é uma maneira de aprender um novo ofício e ainda ajudar os familiares (Foto: Emily Costa/G1 RR)Preso diz que projeto é uma maneira de aprender um novo ofício e ainda ajudar os familiares (Foto: Emily Costa/G1 RR)

Preso diz que projeto é uma maneira de aprender um novo ofício e ainda ajudar os familiares (Foto: Emily Costa/G1 RR)

Para vender os artesanatos, os presos têm ajuda de uma cooperativa que faz a ponte com os compradores. As peças produzidas por eles variam de R$ 40 a R$ 1200.

O lucro das vendas é dividido em duas partes. Para a compra de ferramentas e peças que ajudem na montagem de novos artesanatos, é separado 40% do que se obtêm. Os outros 60% são pagos diretamente aos familiares dos presos que trabalham no Agroarte.

“Não podemos receber dinheiro aqui, então ele vai direto para os nossos parentes. É uma forma que temos de ajudar nossas famílias e ainda nos prepararmos para um futuro fora daqui”, complementa Amazonas.

Além de conseguir ajudar os parentes, os presos beneficiados com o projeto conseguem a remição de pena. A dimunição ocorre da seguinte forma: a cada três dias trabalhados, um dia é abatido do tempo total que o preso ainda tem para cumprir na cadeia.

Reincidência zero

O agente penitenciário Marcondes Queiroz, que é um dos responsáveis pelo projeto na unidade, explica que os presos selecionados para a iniciativa são aqueles que têm bom comportamento e não são ligados a grupos criminosos.

Presos constroem mesas, cadeiras, jarros e lixeiras na oficina (Foto: Emily Costa/G1 RR)Presos constroem mesas, cadeiras, jarros e lixeiras na oficina (Foto: Emily Costa/G1 RR)

Presos constroem mesas, cadeiras, jarros e lixeiras na oficina (Foto: Emily Costa/G1 RR)

Segundo o agente, desde o início do projeto é notável a mudança dos detentos que trabalham no Agroarte. Ele disse que os 24 selecionados para a iniciativa não reincidiram mais na criminalidade.

"Não fazemos distinção pelo crime cometido, mas sim pela ficha aqui dentro e nenhum dos 24 presos que participam voltou a praticar crimes de quaisquer natureza. É uma ressocialização na prática”, afirma.

De acordo com ele, o projeto foi foi implantado há três meses com recursos de 2016 da Vara de Execuções Penais (Vep) do Tribunal de Justiça de Roraima (TJRR). Por enquanto, apenas os presos da Cadeia Pública de Boa Vista são atendidos pelo projeto.

"O projeto foi iniciado com um recurso de R$ 7 mil da Vara de Execuções Penais e idealizado pela agente penitenciária Ana Broisler", explica.

Retorno gratificante

Para o diretor da Cadeia Pública, Maycon Rodrigo, o retorno dos presos que participam do projeto é gratificante e mudou o cotidiano da unidade que abriga 653 homens.

O diretor diz que muitos detentos têm procurado a administração da unidade para participar da iniciativa.

“Esse trabalho deles demonstra para outros presos a importância de exercer uma atividade nova, é uma preparação para a vida lá fora”, finaliza Maycon Rodrigo, diretor da Cadeia.

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