sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

Delegado ouve esposa de suspeito de matar e abusar de criança em MG

Polícia Civil ouve esposa de suspeito de matar criança em Juiz de Fora (Foto: Reprodução/TV Integração)Delegado ouve esposa de suspeito de matar
criança (Foto: Reprodução/TV Integração)

A Polícia Civil ouviu nesta quinta-feira (19) a mulher de 28 anos que estava responsável pela menina de um ano e onze meses que morreu no dia 12 de janeiro em Juiz de Fora, após ser vítima de agressão e abuso sexual pelo próprio guardião, marido da mulher. Segundo o delegado responsável pelo caso, Rodrigo Rolli, ela negou que já tivesse visto sinais de agressões na criança.

"O fato foi corroborado pelos vizinhos que demonstraram que não havia qualquer indício de maus-tratos por parte do casal em cima da criança. Outros pontos importantes a serem demostrados é que ela tinha pouca participação na criação da criança porque ela ficava pouco em casa, ficava mais ao cuidado do autor, e que a princípio o fato aconteceu uma única vez", explicou.

O depoimento dela também desmentiu a versão do suspeito, que confessou o crime. "Nesta oitiva, conseguimos demonstrar totalmente a ausência de qualquer problema psicológico e psiquiátrico anterior do autor, que ele alegou no primeiro momento. Isso está descartado. Ele não toma remédios e não há qualquer intercorrência médica psiquiátrica por parte do autor", complementou Rolli.

O delegado vai ouvir outras duas testemunhas nesta sexta-feira (20). Segundo ele, serão pessoas que acompanharam o socorro da menina até a UPA de Santa Luzia. O inquérito deve ser concluído ainda nesta semana e seguirá para a Justiça na próxima segunda-feira (23).

O jovem e a mulher dele eram responsáveis pela menina porque a mãe perdeu a guarda após a filha mais velha, de dois anos, ter sido morta a pontapés pelo padrasto, pai da menina morta na semana passada.

Omissão por parte das unidades de saúde, diz juíza
A juíza da Vara da Infância e Juventude, Maria Cecília Stephan, disse que a Justiça não foi informada sobre os maus-tratos pelas duas unidades de saúde que atenderam a criança. Ela solicitou ao Ministério Público um inquérito para apurar a omissão por parte do Hospital de Pronto Socorro (HPS) e da UPA de Santa Luzia.

O jovem de 24 anos que tinha a guarda da menina relatou à Polícia Militar (PM) que a criança chegou a ser atendida no HPS no dia 2 de janeiro por conta de uma queda, e na última quinta-feira a levou na outra unidade, mas ela já estava morta. O laudo do Instituto Médico Legal (IML) constatou a morte por hemorragia aguda grave, causada por espancamento e também havia indícios de abuso sexual.

A Secretaria de Saúde informou que todos os procedimentos indicados para o atendimento da criança foram adotados quando ela deu entrada pela UPA Santa Luzia. Atendida pela equipe médica, a criança foi encaminhada ao HPS, com fratura na perna. Na unidade hospitalar, ela foi atendida por um ortopedista e liberada, não havendo em seu atendimento naquele dia, tanto na UPA quanto no HPS, qualquer indício que pudesse levar a equipe a suspeitar de agressão.

"Se a primeira vez que ela apareceu machucada o hospital tivesse informado, nós teríamos tirado essa criança e, quem sabe com uma boa assistência médica, ela estaria viva. As únicas providências que eu posso fazer, com muita tristeza, eu fiz ontem, requisitar os prontuários para encaminhar para o promotor da infância para a instauração da responsabilidade dos diretores das duas unidades que não avisaram a nós que a menina estava sofrendo", explicou a juíza.

Polícia Civil ouve esposa de suspeito de matar criança em Juiz de Fora (Foto: Reprodução/TV Integração)Menina foi atendida na UPA de Santa Luzia
(Foto: Reprodução/TV Integração)

Guarda da criança
Conforme Stephan, em dezembro de 2015, após reivindicação técnica, a prima teve a guarda da criança.

"Após a morte da irmã, a criança foi entregue para a avó, porém não tinha condições de cuidar. Depois foi acolhida. No acolhimento aparece um tia, que também não tinha condição de ficar. Foi para uma família acolhedora. Lá, trabalha-se com a família biológica em busca de um parente. Durante oito meses, essa prima que se apresentou na família acolhedora construiu laços de afetividade com a criança e desta forma houve uma reivindicação e, nos estudos da psicologia, nada era contra indicar a doação", afirmou.

A Secretaria de Desenvolvimento Social afirmou que o casal acompanhou o dia a dia da menina por sete meses, desde que a mulher demonstrou interesse em adotá-la, mas destacou que, após o processo de adoção, a responsabilidade passou a ser da Vara da Infância e Juventude.

"Infelizmente é um caso bem trágico. A irmã dela, em 2015, foi assassinada da mesma forma. O padrasto foi condenado a mais de 20 anos. A mãe foi absolvida por inimputabilidade, ou seja, ela não teria o discernimento, conhecimento do fato. Em razão disso, o pai, por estar preso, e a mãe, por ser considerada inimputável, ela perdeu a guarda da criança, que foi parar com este casal. Infelizmente, o guardião cometeu este crime", explicou o delegado de Homicídios, Rodrigo Rolli.

O caso foi denunciado após a médica da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Sul, no Bairro Santa Luzia, se recusar a atentar a causa da morte e acionar as autoridades. A menina foi sepultada no Cemitério Municipal na tarde do último sábado (14).

Após o resultado do laudo, o suspeito foi preso em flagrante e, em depoimento, confessou o crime. Ele está no Centro de Remanejamento do Sistema Prisional (Ceresp).

Agressão e abuso
De acordo com o Boletim de Ocorrência (BO), a PM registrou o caso na noite de quinta-feira (12) após ser acionada por uma enfermeira. Os funcionários explicaram que a criança já chegou morta e apresentava escoriações e hematomas no rosto e uma perna engessada.

O guardião contou que a levou para a unidade por complicações respiratórias. Ele disse que a estava alimentando, na quinta-feira, quando ela teve uma crise asmática. Então, usou a bombinha de medicação, aproximou álcool das narinas da criança e tentou manobra cardíaca, mas nada teve efeito. Ele ligou para a esposa que estava trabalhando e um vizinho a levou de carro para a UPA, onde a morte foi confirmada.

Diante da médica não atestar a causa da morte, o corpo foi encaminhado para o Instituto Médico Legal (IML), onde passou por perícia na sexta-feira (13).

"As lesões alegadas pelo guardião teriam sido recentes, só que a data não é compatível com a evolução. O médico legista constatou hemorragias causadas por politraumatismos por instrumentos contundentes, que podem ser socos, chutes, tapas, pauladas. Também foram constatadas lesões na região anal da criança, ou seja, houve abusos sexuais", acrescentou Rodrigo Rolli.

Morte da meia-irmã
A investigação sobre a morte da meia-irmã começou em 7 de maio de 2015, após o crime ser descoberto no Instituto Médico Legal (IML). A médica legista suspeitou de marcas de violência no corpo da criança e acionou os investigadores.

A mãe e o padrasto foram presos no dia 7 de maio durante o velório da criança. Eles a teriam espancado durante a noite de 6 de maio. Inicialmente, ao buscarem socorro para ela no Pronto Atendimento Infantil (PAI), disseram que a menina caiu. Em depoimento ao delegado, mudaram a versão dizendo que ela foi atropelada. Por fim, confessaram o espancamento. Evidências apontam que a criança foi morta após ser chutada.

O padrasto de 29 anos foi julgado em 1º de agosto pelo Tribunal de Justiça de Minas Gerais e condenado pela prática de homicídio qualificado por motivo fútil a 20 anos de reclusão em regime fechado. Ele permaneceu preso durante o processo e teve o pedido de responder em liberdade negado. Além da condenação, ele terá que pagar uma indenização à família da vítima. Segundo o Ministério Público, o acusado agiu por motivo fútil, por não gostar da vítima, filha do relacionamento da esposa com outro homem.

A mãe de 26 anos foi absolvida em um julgamento no Tribunal do Júri no Fórum de Juiz de Fora em 17 de outubro. De acordo com as informações da secretaria do Tribunal do Júri, a defesa sustentou a tese de negativa de autoria e participação de menor importância.

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