Assaltantes mataram mais de 70 pessoas durante roubos até outubro só na capital (Foto: Reprodução/Rede Amazônica)O número de pessoas assassinadas durante assaltos cresceu em um período dez meses em Manaus. Entre janeiro a outubro de 2016, 74 foram mortas por assaltantes. O número de latrocínios é maior do que o volume de casos de todo ano de 2015, quando 56 pessoas perderam a vida nesse tipo de crime. A Zona Norte de Manaus concentrou o maior número de casos.
Segundo dados da Secretaria de Segurança Pública do Amazonas (SSP-AM), 45 casos de latrocínio - roubo seguido de morte - ocorreram em Manaus no ano de 2014. Em 2015, foram registrados 72 casos do crime. Houve um aumento de 60% dos casos entre os dois anos.
Um conjunto de fatores tem motivado a incidência de roubos seguidos de mortes na capital, de acordo com o secretário de Segurança Pública do Amazonas, Sérgio Fontes. A crise econômica, que provocou crescimento dos índices de desemprego, e é um dos fatores apontados pelo secretário para o aumento da criminalidade.
"São pessoas que vendiam drogas e que por falta de entorpecentes passaram a assaltar. Essas pessoas não têm preparo para assaltos e são muito mais violentas do que os antigos assaltantes. A crise aumentou o número de desempregados e mais pessoas precisando de recursos. Os latrocínios são crimes de oportunidade. O ladrão não vai para matar porque é maior pena do Código Penal, são 30 anos. As pessoas estão menos dispostas a entregar o que seu", disse o secretário.
O delegado titular da Delegacia Especializada em Roubos, Furtos e Defraudações (Derfd), Adriano Felix, disse que o aumento dos latrocínios tem influência na redução da circulação de drogas em Manaus em decorrência do combate ao tráfico.
"Foram apreendidas dez toneladas de drogas no ano passado e isso acabou desencadeando a migração dos infratores para os crimes de roubo e furto, tendo em vista alguém tem pegar esse prejuízo. Empresários, transeuntes e cidadãos que trabalham diariamente para se sustentar e acabam vítimas desses criminosos. O latrocínio é desencadeado em decorrência do roubo. Esses criminosos chegam nervosos, sem saber manusear arma de fogo com dedo no gatilho e a partir daí acabam matando às vezes por descuido ou intencionalmente", avaliou o delegado.
As orientações da Polícia Civil para em casos de assaltos são que as vítimas não reajam e que as vítimas mantenham a calma. "É preciso manter a calma e em caso de movimento brusco comunique ao bandido que vai se movimentar, que vai pegar o celular ou tirar o cinto de segurança se estiver no carro para que ele não se assuste e acabe atirando na vítima", orientou Adriano Felix.
Sérgio Fontes ressaltou que as estratégias adotadas pela SSP-AM para combate ao crime de latrocínio são as mesmas de homicídio, que consistem na redução do acesso as armas de fogo e prisão dos latrocidas.
"Todos os dias a Polícia Militar apreende dez armas de fogo em Manaus, mas a pessoa que estava com arma não fica presa muito tempo porque é porte ilegal de arma. Então ela volta para rua rapidamente e em uma dessas que ela mata alguém", comentou Fontes.
Vida interrompida
Kelner Brasil, de 30 anos, foi uma das dezenas de vítimas dos assaltantes em Manaus. Kelner foi morto a tiros em um ponto de ônibus na Zona Sul de Manaus, no dia 23 abril, quando um adolescente de 17 anos e um jovem de 21 armado faziam arrastões pela cidade.
Testemunhas relataram à polícia que um dos assaltantes desceu da moto, se aproximou e anunciou o assalto sem mostrar a arma. Em seguida, pegou o celular de uma mulher e ordenou que Kelner entregasse o celular. No entanto, ele se recusou a dar o aparelho e foi baleado pelo assaltante. A polícia informou que a vítima reagiu por acreditar que o criminoso estivesse desarmado. Os criminosos faziam arrastões.
Ação violenta dos criminosos interrompeu a vida de Kelner, que planejava ingressar no curso superior de Educação Física e constituir sua família. A vítima trabalhava em uma empresa de transporte de cargas.
"Só eu e Deus sabemos o que estou sofrendo, o que eu estou passando com a perda do meu filho. A gente perder um filho com saúde e trabalhando. Eu quero que a Justiça faça alguma coisa porque perder um filho para uns bandidos desses", desabafou mãe de Kelner, a dona de casa Maria Luciete Brasil, de 58 anos.
Um suspeito foi preso em falgrante e o adolescente apreendido pela Polícia Militar foi encaminhado para a Delegacia de Apurações de Atos Infracionais (Deaai) logo após o crime. A Polícia Civil apontou que Adriano Rodrigues de Oliveira, de 21 anos, é o principal suspeito do crime, jutamente com o adolescente.
O inquérito foi concluído pela Polícia Civil e enviado à Justiça. Adriano continua preso na Unidade Prisional de Puraquequara (UPP) na Zona Leste da capital. Ele foi indiciado por latrocínio. O processo que tramita na 4ª Vara Criminal da capital e encontra-se na fase de realização de audiências de instrução e julgamento. O Tribunal de Justiça do Amazonas (TJAM) a última audiência, prevista para ocorrer no dia 9 de novembro não pode ser realizada em virtude do não comparecimento de testemunhas arroladas. A juíza responsável pelo processo remarcou a audiência para o dia 16 de dezembro.
"O réu continua preso uma vez que a juíza, seguindo inclusive parecer do Ministério Público, indeferiu três pedidos de relaxamento de prisão/liberdade provisória apresentados pela defesa, respectivamente, em maio, junho e outubro", informou o TJAM.
Modelo foi morto em assalto(Foto: Divulgação/MisterAmazonasTur)
Sonho destruído
O modelo Rosivaldo Miranda Diniz, de 23 anos, também foi morto durante assalto em Manaus. No dia 5 de abril, o jovem estava na saída de uma loja no Centro de Manaus que foi assaltada e durante a fuga o assaltante tentou roubar a moto do modelo. A vítima pediu ao assaltante que devolvesse a chave de sua residência e levou quatro tiros de arma de fogo.
A mãe do modelo, a auxiliar municipal, Betânia de Melo, de 39 anos, quer a condenação do culpado pelo crime.
"Ter prendido o suspeito não muda, porque não vai mais trazer a vida do meu filho de volta. Nem o sonho dele de volta. Simplesmente acabou. Não vai trazer meu filho de volta, mas isto não pode ficar impune. Quero justiça", disse a mãe.
Kaio Victor de Souza Santos, de 31 anos, foi acusado de cometer o crime e está preso o dia da morte do modelo. Ele foi capturado logo após o crime. No dia 14 de outubro deste ano, Kaio foi condenado a 31 anos e dez meses de reclusão pelo assassinato do universitário e modelo Rosivaldo Miranda Diniz. A sentença da juíza Margareth Rose Cruz Hoagen, titular da 4ª Vara Criminal da Comarca de Manaus.
Drogas e homicídios
Em dezembro a Secretaria de Segurança divulgados dados sobre a criminalidade na capital. Segundo o secretário de segurança, o número de apreensões de drogas em 2016 caiu em relação a 2015, pouco mais de 1 tonelada a menos. A SSP também divulgou um número menor de homicídios em comparação ao ano passado: foram 792 assassinatos contra 988 de 2015.
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