segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Moradores em situação de rua em Uberlândia revelam sonhos e rotina

Com mais de 600 mil habitantes - dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) - Uberlândia é a principal cidade do Triângulo Mineiro. A Prefeitura e a Polícia Militar (PM), não possuem dados de quantas pessoas vivem em situação de rua do município. Mas quem anda pela cidade encontra moradores vivendo em praças, viadutos e principalmente na rodoviária.

A administração do terminal diz que cerca de 50 pessoas fazem morada nos bancos e corredores do local. Para conhecer a rotina e sonhos deste público o G1 foi às ruas da cidade e conversou com alguns deles (Veja o vídeo acima).

Em nota, a Prefeitura de Uberlândia informou que a Secretaria de Desenvolvimento Social e Trabalho (Sedest) está trabalhando para colocar em prática ações que visam atender a população de rua da cidade. O Executivo disse ainda que está buscando parcerias com entidades não governamentais, polícias Civil e Militar, Ministério Público e outros. A administração municipal ressaltou também que a equipe que vai atuar nesse segmento já foi estruturada e vai trabalhar junto ao setor de migração em frente ao Terminal Rodoviário Castelo Branco, na Praça da Bíblia.

Moradores em situação de rua em Uberlândia (Foto: Jack Albernaz/Arquivo Pessoal)Moradores em situação de rua em Uberlândia
(Foto: Jack Albernaz/Arquivo Pessoal)

O administrador da Rodoviária Presidente Castelo Branco em Uberlândia, Paulo Roberto Pereira, conta que  trabalha no terminal há 16 anos diz que já identificou perfis diferentes  das pessoas que moram no local.

"São muitos anos convivendo com eles e já percebi que cada por trás de cada história algo levam eles a ficar ali. Tem aqueles que ficam por necessidade e geralmente são os que menos incomodam os usuários. Também tem os viciados que abordam as pessoas em busca de dinheiro para alimentar os vícios e os que ficam por comodismo mesmo. Porém a rodoviária, apesar de pública, não é o local adequado para receber esse pessoal", argumentou.

Moradores em situação de rua na rodoviária de Uberlândia (Foto: Laiene Rodrigues/ Arquivo Pessoal)Moradores em situação de rua na rodoviária de Uberlândia (Foto: Laiene Rodrigues/ Arquivo Pessoal)

Perfis
A reportagem entrevistou várias pessoas que vivem em situação de rua em Uberlândia. O G1 questionou aos entrevistados o que levam eles a morarem nas ruas, como vivem e o que planejam para o futuro. Com base nas respostas a reportagem listou três perfis: os que vivem assim por opção, os viciados em drogas ou/e álcool e os que saíram de casa por algum trauma. Veja alguns dos depoimentos:

Opção
O morador em situação de rua que vive na rodoviária Presidente Castelo Branco no Bairro Martins e preferiu não se identificar conta que vive nas ruas por opção.

"Eu vivo nas ruas porque quero. Tenho família em Araxá e uma filha de um aninho. Minha esposa não sabe que fico nas ruas aqui em Uberlândia. Eu saio porque gosto desta vida, não gosto de ficar em um lugar só. Já tive emprego fixo mas não me adaptei", explicou o homem de 32 anos.

Avô da criança disse que o filho é usuário de drogas e álcool, espírito santo (Foto: Bernardo Coutinho/ A Gazeta)Moradores em situação de rua contam como levam
a vida(Foto: Bernardo Coutinho/ A Gazeta)

Ele diz que sempre está em conta com a família e que não sente falta de ter um trabalho fixo e uma rotina. O homem comenta que sempre recebe doações.

"Eu tenho celular e sempre arrumo uma conexão de internet disponível. Falo com todos que quero, não sumo. Não gosto também de andar sujo, sempre vou em algum lugar me banhar. É uma escolha minha viver assim. Muitos dão dinheiro, comida também sempre tem. Vivo nas ruas é o que quero para mim atualmente", finalizou.

Trauma
Com 61 anos o morador em situação de rua, Valdenaro Cardoso Silva, conta que vive nas praças de Uberlândia. Nascido em Mato Grosso ele comenta que saiu de casa após um trauma familiar.

"Há muitos anos tive ume decepção com minha família e saí de casa. Aí não consegui mais voltar. Agora meu sonho é voltar para onde meus familiares moram", destacou.

Para não passar frio durante os perídos de baixas temperaturas ele diz que prefere ficar em bandos e que consegue doações de roupas, cobertores e comida com facilidade.

"Nos dias frios pego as cobertas que ganho e acabo ficando em bando, nas praças com o pessoal que vive assim também. Eu procuro um advogado para resolver meu problema, pensei se aposentase conseguiria o dinheiro para ir embora, procurar minha família. Eu ainda vou voltar", disse.

Site da UFJF ajuda no consumo de álcool (Foto: Reprodução/TV Integração)Vício em álcool leva pessoas viverem nas ruas de Uberlândia (Foto: Reprodução/TV Integração)

Vício
Viciado em álcool, Luis Carlos dos Santos de 49 anos é nascido em Lages em Santa Catarina e diz que já trabalhou como locutor de loja e vendedor. O homem que já foi preso por uso de drogas diz que vive de doações na rodoviária de Uberlândia.

"Já me internei por conta de vício de drogas, mas ainda sou viciado em álcool. Planejo em sair das ruas, mas precisa de força de vontade e um impulso. Se até formiga tem casa, porque eu que sou imagem e semelhança do senhor não posso ter?" argumentou.

Se até formiga tem casa eu que sou imagem e semelhança do Senhor não posso ter ?"
Luis Carlos, morador de rua

Para o G1, Luiz que não tira o sorriso do rosto, diz que tenta ser feliz e que não sente vontade de voltar a viver com a família, mas sonha em ter filhos.

"Comida não falta, também já fui internado para tratar os vícios e preso. Não me vejo como alguém infeliz, mas julgo que falta algo. Gostaria de constituir uma nova família, mas não sei se consigo isso", finalizou.

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