terça-feira, 21 de março de 2017

PF explica como funcionava esquema envolvendo blogueiros e policial

O Ministério Público Federal no Maranhão identificou na investigação da Polícia Federal três grupos inter-relacionados (blogueiros, servidores públicos e empresários), tendo um agente da Polícia Federal como figura central organização criminosa composta por servidores públicos e blogueiros de São Luís.

Segundo decisão do MPF, a prisão temporária do agente da Polícia Federal Danilo dos Santos Silva e dos blogueiros Luis Assis Cardoso Silva de Almeida (Luís Cardoso), Luis Pablo Conceição Almeida (Luís Pablo) e Hilton Ferreira Neto (Neto Ferreira) foi necessária para evitar que houvesse o risco de ocultação, destruição e falsificação de provas, assim como combinação fraudulenta entre os investigados.

Já se comentava na cidade que eles tinham esse modo de vida, e costumavam praticar extorsões a partir de publicações contra imagem de pessoas"
Max Eduardo, delegado da PF

Eles foram apontados pela investigação da Polícia Federal como líderes da organização criminosa responsável por extorsões, corrupção ativa, crimes contra a honra contra empresários, políticos e pessoas da alta sociedade.  De acordo com a decisão do MPF, os três blogueiros e o policial federal deveriam ficar presos provisoriamente por cinco dias no Quartel do Corpo de Bombeiros em São Luís.

No entanto, por telefone, a juíza da 1ª Vara de Execuções Penais Ana Maria Almeida Vieira disse a nossa reportagem que o Corpo de Bombeiros é destinado apenas aos presos de instituições militares, o que não é o caso. Por isso,  os detidos na Operação Turing serão encaminhados para o Complexo de Pedrinhas, seguindo determinação da VEC.

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As investigações apontam que o esquema movimentou vantagens pecuniárias que variavam entre R$ 1.500 e R$ 10 mil por postagem. Havia casos em que a postagem deliberadamente vinculava protagonistas da notícia a parentescos com políticos, às vezes muito distante. Tudo com objetivo de fazer chantagem. 

“O grupo tem uma atuação variada. Já se comentava na cidade que eles tinham esse modo de vida, e costumavam praticar extorsões a partir de publicações contra imagem de pessoas. Percebemos uma predileção por grandes empresários e por pessoas politicamente expostas”, afirmou o delegado Max Eduardo Pinheiro, chefe do Núcleo de Inteligência Policial do Maranhão durante coletiva realizada na sede da PF.

Coletiva Polícia Federal no Maranhão (Foto: Biné Morais/ O Estado do Maranhão)Coletiva Polícia Federal no Maranhão (Foto: Biné Morais/ O Estado do Maranhão)

Nas investigações foi utilizada interceptação telefônica, assim como foram realizadas diligências de campo e até mesmo imagens captadas em um motel, onde o grupo se reuniu para discutir ações. “Tudo esse material comprova o dolo do crime”, enfatizou o delegado.

Os nomes dos envolvidos foram divulgados para a imprensa para informar a população e levar a população a conhecer e até mesmo para encorajar que outras vitimas compareçam à PF e denunciem os investigados. “Nós conclamamos que a imprensa, que atua efetivamente como imprensa, que atua para informar, tem o direito de informar, a população de conhecer e até mesmo encorajar as vitimas para procurar a policia para relatar os fatos dos quais foram vítimas” finalizou o delegado.

Grupo secundário
O MPF ainda constatou que o grupo de Danilo e Luís Cardoso contava com a participação secundária de outros blogueiros como: Antonio Marcelo Rodrigues da Silva (Marcelo Minard), Ezequiel Martins da Conceição (Kiel Martins), Antônio Martins Filho (Nego John), Marcelo Augusto Gomes Vieira e Yuri dos Santos Almeida, que foram conduzidos coercitivamente para prestarem depoimentos na sede da Polícia Federal, na Cohama.

A Polícia Federal também realizou 12 mandados de busca e apreensão nos endereços utilizados pelos citados na investigação e na execução da Operação Turing, cientista e matemático britânico responsável pelo desenvolvimento de uma máquina utilizada durante a Segunda Guerra Mundial, capaz de interceptar e decodificar dados criptografados transmitidos pela máquina Enigma.

Exoneração de Danilo (Foto: Reprodução/ Diário Oficial)Exoneração de Danilo (Foto: Reprodução/ Diário Oficial)

Início de Investigação
A investigação, iniciada em 2014, revelou que um policial federal revelava antecipadamente fatos sob sigilo de Justiça para um grupo de blogueiros.

Estes, por sua vez, ameaçavam funcionários públicos e empresários, e pediam valores em troca da não divulgação na mídia local dos fatos descobertos em desfavor deles.

Os investigados aproveitavam a oportunidade para fugirem ou destruírem provas. Em troca, o servidor público conseguia publicações na imprensa em seu favor, permitindo sua inserção em cargos de confiança do Estado.

Danilo dos Santos Silva chegou a assumir a função de Secretário Adjunto da Administração, Logística e Inovação Penitenciária. Ele foi exonerado pelo governador Flávio Dino (PCdoB) no último dia 10 de março.

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