quarta-feira, 26 de abril de 2017

'Preconceito mancha muito mais': artista faz grafite após jovem de MG denunciar agressão por causa de turbante

Ferreira Marcos disse que já pensava no tema antes de relato da estudante. Esta semana, Dandara Castro denunciou ataque durante festa de formatura em Uberlândia.

O cruzamento da Rua São Francisco de Assis com a Olegário Maciel no Bairro Saraiva, em Uberlândia, deixou de passar despercebido desde terça-feira (25). Entre entulhos e paredes de um imóvel antigo, a figura de uma mulher negra se destaca com os dizeres "o preconceito mancha muito mais" cuja obra do artista plástico Marcos Ferreira da Silva, de 35 anos, traz à tona o tema racismo e outros tipos de discriminação.

A obra surge em um momento em que a discussão sobre o preconceito racial toma grandes proporções na cidade, após a denúncia da jovem Dandara Castro, que disse ter sofrido agressões e ter tido o turbante arrancado à força da cabeça durante uma festa de formatura.

“Foi uma boa coincidência, porque já estava com a ideia de fazer o desenho e, assim que terminei e voltei para a casa vi nos noticiários o caso. Precisamos falar sobre o preconceito, seja ele de cor ou não. E é isso que eu trago com o meu trabalho. É minha maneira de falar com a sociedade sobre questões polêmicas e tentar conscientizar”, disse ao G1.

Em uma mistura de realismo e arte abstrata, a figura inspirada em uma mulher negra traz no rosto da personagem manchas de vitiligo que, além de dar origem à mensagem escrita, também repassa o preconceito contra quem tem a doença.

O olhar marcante da mulher também é uma característica estética de Ferreira em demonstrar o apelo do personagem e chamar a atenção de quem passa pelo local, por meio das técnicas do grafite e algumas formas em 3D.

O local escolhido pelo artista para expor a obra também foi pensado estrategicamente. Depois de pensar o projeto e ter a autorização dos moradores do imóvel para executá-lo, bastou separar as latas de tinta em spray e reservar menos de 24 horas para retratar a imagem.

“Comecei na segunda-feira e dei os retoques finais na terça. Eu passava pelo local com aspecto abandonado e sentia que essa esquina precisava de um colorido, de um visual mais alegre e que pudesse contribuir para a cidade”, contou Ferreira Marcos.

A alguns metros do painel sobre o preconceito racial em contraste com a doença vitiligo, na mesma rua, outra imagem do mesmo autor chama a atenção. O painel mostra um cão com “olhar de piedade”, como o próprio artista denomina, trazendo em discussão o problema de abandono de animais na cidade.

Este foi o segundo trabalho de Marcos neste ano. O primeiro, feito na parede de uma escola pública do Bairro Marta Helena, abordou o tema educação e a importância de os pais participarem da vida escolar das crianças.

0 comentários:

Postar um comentário