Thiago Xavier e Lorrane Bernardes deixaram o Brasil para viver em Chiang Mai, na Tailândia. Lucas Carrano e Raissa foram morar no Bahrein, mas rodam o mundo com equipe de MMA. Jovens contam razões das mudanças.
Quem nunca pensou em abandonar um emprego chato para se dedicar a algo que permita viajar e conhecer gente nova? Foi o que fizeram dois casais de Divinópolis. Cansados da rotina e das condições de trabalho, eles resolveram jogar tudo para o alto e se unir a milhões de outros que usam as tecnologias de comunicação para realizar tarefas profissionais de maneira remota, sem depender de uma base fixa. Estilo de vida que tem até um nome próprio: nomadismo digital.
Os publicitários Thiago Xavier, de 25 anos, e Lorrane Lillian Bernardes, de 24, se conheceram em 2011, quando estavam no primeiro período da faculdade. Sentavam-se distantes na sala. Mas o gosto por games, animes e tecnologia cuidou de aproximar os dois até que eles começaram a namorar, se casaram e passaram a trabalhar juntos.
Na época, Thiago era contratado como editor de vídeo. Lorrane era finalista em uma gráfica. E foi no final de 2012, cansados da rotina de escritório, que eles resolveram abandonar os empregos e abrir a própria agência de publicidade.
Bastaram alguns meses para sentirem que aquilo também não era o que realmente queriam. Começaram, então, a trabalhar com fotografia. A meta era poder sair por aí fotografando lugares e pessoas e, assim, não se estressar. "Para nós isso também não bastava. Começamos então a pesquisar bastante sobre formas de conquistar liberdade no trabalho. Descobri o nomadismo digital, apresentei a ideia ao Thiago e resolvemos tirar o ano de 2016 inteiro só para organizar tudo", completou Lorrane.
O destino escolhido pelo casal foi Chiang Mai, na Tailândia. Eles estão lá há três meses. "Grande parte dos nômades digitais com quem conversamos nos indicou esse lugar. É um país muito barato para se viver e que recebe muito bem os estrangeiros. Aqui não precisamos de escritório. Qualquer cantinho com internet onde dê para apoiar o notebook vira local de trabalho", acrescentou o jovem.
A infraestrutura da cidade é considerada como uma das mais avançadas do mundo. O custo de vida é baixo em relação ao do Brasil. O clima é ameno. Belas paisagens e a sensação de segurança nas ruas foram, dentre outras razões, citadas pela revista americana "Travel + Leisure", que a elegeu como a melhor cidade da Ásia e a segunda melhor do mundo.
Por tudo isso, a comunidade de nômades digitais no país é grande. "Todos são muito unidos. Quando chegamos, por exemplo, pedimos ajuda em um grupo no Facebook para achar um apartamento. Em menos de dez minutos já tínhamos uma lista enorme de endereços com mapas, fotos, preços e descrições. O Thiago postou o portfólio dele na mesma página e rapidinho conseguiu muitos trabalhos de freelance", lembrou Lorrane.
O casal dividiu a produção. "Até então, a gente trabalhava juntos. Agora separamos nossos serviços. Ela tem os clientes dela como designer e eu tenho os meus clientes como modelador 3D", detalhou Thiago.
Agora eles trabalham em um local adequado à prática do co-working. "É um espaço chamado Camp e que fica dentro de um shopping aqui no bairro. Tem outro casal brasileiro lá, inclusive. Chegamos cedo, pegamos uma mesa, conectamos nossos dispositivos no wifi e ficamos trabalhando até a noite", contou Lorrane.
O casal não fala tailandês, mas supera a barreira do idioma usando o inglês e a linguagem corporal. Eles contam que quando tentam conversar com alguém que não entende inglês, gesticulam e logo o interlocutor compreende a mensagem.
"Em geral eles entendem bem o inglês. Mas quando um ou outro não entende muito bem, usamos palavras mais básicas e apontamos as coisas. Isso já costuma resolver tudo", contou ela.
Os dois afirmam que a carreira profissional e o faturamento como nômades digitais estão melhores do que quando trabalhavam no Brasil. "Sem dúvidas melhorou bastante, pois o fato de você poder trabalhar de onde quiser e estar sempre pronto para novas aventuras e oportunidades agrega muito, tanto inspiração quanto geração de valor. Você não vai achar trabalhos multimilionários, mas vai fazer contatos e fechar uma quantidade de serviços suficiente para garantir que você continue aqui. Hoje eu já consigo até ajudar a minha família financeiramente, o que no Brasil era difícil", comentou Lorrane.
Contudo, nem tudo são flores. "Não é tudo às mil maravilhas. As pessoas tendem a achar que somos ricos, ganhamos muito bem e que só ficamos viajando. Mas passamos muitos perrengues e temos que trabalhar sem parar para poder continuar. Também precisamos ter um bom seguro de saúde porque os hospitais daqui são ótimos, mas exigem isso", acrescentou Thiago.
Perguntados se gostariam de comprar uma casa e viver para sempre na Tailândia, o casal deixa transparecer, mais uma vez, a inquietude. "Isso não é algo que se encaixa no estilo de vida nômade. Hoje estamos aqui e amando o lugar, porém amanhã podemos estar em qualquer outro lugar", finalizou Thiago.
Morando fora
O jornalista Lucas Pereira Carrano e a engenheira civil Raissa Gabriela Teixeira Silva se conheceram há oito anos, na época da faculdade. Raissa trabalhava no laboratório de informática. Por meio de um amigo em comum, os dois se conheceram. No ano passado eles formalizaram a união e se mudaram para o Bahrein, pequeno país insular do Golfo Pérsico, onde trabalham em uma empresa que promove lutas de MMA.
"Precisávamos ser casados para que eu pudesse trazê-la comigo. Três dias depois do casamento eu me mudei sozinho. Ficamos a uma distância de dez mil quilômetros até que o visto dela saísse, dois meses depois. Nesse tempo eu viajei sozinho à Rússia, Líbano, Jordânia duas vezes, Suécia, Inglaterra e Alemanha", contou Lucas.
Na empresa ele exerce funções de marketing mídia e Raissa comanda o departamento de redes sociais. Mas não trabalham em um lugar específico. Cabe a eles acompanhar os atletas nas competições, que acontecem em vários países e costumam demorar vários dias.
Em março, passaram uma semana e meia no Brasil por causa de um evento em Curitiba. Depois, foram para Abu Dhabi e, em seguida, passaram uma semana no Cazaquistão. As constantes viagens internacionais inspiraram os dois a criar o "Morando fora", onde compartilham suas experiências de vida nômade.
"A gente trabalha pela empresa, mas tira proveito disso. Semana passada fomos à Índia e ao Cazaquistão. Já tínhamos ido para Abu Dhabi, tudo por conta do trabalho, mas aproveitamos para produzir esse conteúdo. Recentemente conhecemos aqui no Bahrein uma menina que conhecia a nossa página e a tem como referência sobre a vida aqui", comentou Lucas.
O conteúdo é definido em conjunto, a partir dos gostos pessoais de cada um. Lucas contou que gosta de falar da culinária que conhece. Já Raissa gosta de focar em coisas rápidas do dia a dia. "Mas o que que estamos fazendo não é um diário da vida de casal", brincou.
No Bahrein, o casal visitou uma hamburgueria que fez uma homenagem a eles. "Ficamos amigos do dono e ele resolveu, então, criar um hambúrguer com pão verde e queijo amarelo. Chamou o produto de 'The brazilian' por causa da gente", contou Thiago.
Agora, Raissa disse que pretende produzir um canal no YouTube. "É uma forma melhor de falarmos sobre nossas experiências de morar fora do Brasil. Quando tivermos uma câmera boa suficiente começaremos a trabalhar nesta versão audiovisual do projeto", ressaltou.
O casal também sente que alguns conhecidos imaginam que os dois vivem apenas curtindo.
"Tentamos deixar claro que não estamos aqui a turismo. Viemos para trabalhar. Desde que viemos eu ainda não tive férias e às vezes chego a trabalhar 14 horas por dia ou mais", destacou Lucas.
Thiago, Lorrane, Lucas e Raissa concordam em uma coisa: a experiência e o conhecimento que adquiriram durante as viagens a trabalho e nos passeios que puderam fazer entre um serviço e outro são bem mais intensos e gratificantes do que seriam se continuassem no Brasil.
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