quarta-feira, 24 de maio de 2017

Vídeos mostram ex-prefeitos negociando propina em Minas Gerais

Ex-prefeitos de Carmo do Paranaíba e Presidente Olegário são flagrados tentando receber valores. Eles são alguns dos envolvidos na Operação "Isonomia", que envolve outras prefeituras da região; veja posicionamentos.

A TV Integração obteve nesta quarta-feira (24) vídeos que mostram os ex-prefeitos de Carmo do Paranaíba, no Alto Paranaíba, e Presidente Olegário, no Noroeste de Minas, flagrados pelo Ministério Público Estadual (MPE) tentando receber propina. Nas imagens eles negociam pagamento ao escritório de advocacia Costa Neves.

Os envolvidos foram investigados durante a Operação "Isonomia", desencadeada na terça-feira (23) contra crimes de corrupção ativa e passiva, além de tráfico de influência e lavagem de dinheiro. A investigação apura a contratação irregular de um escritório de advocacia situado em Uberlândia para prestação de serviços de compensação de créditos tributários a sete prefeituras do Triângulo Mineiro, Alto Paranaíba e Noroeste de Minas, nos anos de 2015 e 2016.

Políticos de várias cidades estão envolvidos. Confira abaixo os vídeos e os posicionamentos.

Carmo do Paranaíba

Vídeo mostra ex-prefeito de Carmo do Paranaíba negociando propina

Vídeo mostra ex-prefeito de Carmo do Paranaíba negociando propina

Uma das imagens mostra o ex-prefeito de Carmo do Paranaíba, Marcos Aurélio Costa Lagares (DEM), negociando com o escritório o acerto de R$ 3.500. No vídeo, o político pede o valor referente à comissão de duas parcelas pagas pela Prefeitura referente a serviços prestados entre 2015 e 2016

Naquela época, enquanto prefeito, Marcos Aurélio havia acertado que receberia 20% do valor pago pelo Administrativo. Conforme informou o promotor Daniel Marota, no período da negociação, duas parcelas totalizando R$ 21.443 ainda não haviam sido pagas e a transação foi realizada em 2017. Quando soube do pagamento, o ex-prefeito se dirigiu até o escritório e pediu a propina de R$ 3.500.

Sobre o caso, a atual Administração informou que teve conhecimento dos fatos através da imprensa e que todas as investigações e denúncias citadas são de inteira responsabilidade da gestão anterior. A reportagem não conseguiu contato com Marcos Aurélio Costa Lagares.

Ex-prefeito de Carmo do Paranaíba Marcos Aurélio Costa Lagares cobrando propina (Foto: G1)Ex-prefeito de Carmo do Paranaíba Marcos Aurélio Costa Lagares cobrando propina (Foto: G1)

Ex-prefeito de Carmo do Paranaíba Marcos Aurélio Costa Lagares cobrando propina (Foto: G1)

Veja a descrição do trecho que mostra o momento da negociação:

MARCOS AURÉLIO: Vamos resumir esse trem. Arredonda esse trem para R$ 3.500. Você me dá um cheque e eu vou embora. Nós esquece isso e pronto acabou o problema.
COLABORADOR: O problema, Marcão, é que eu não assino o cheque.
MARCOS AURÉLIO: Depois você recebe dele aí, na firma. E nós resolve isso agora. Pronto.
COLABORADOR: O problema é só conseguir esse trem. Você já vai embora?
MARCOS AURÉLIO: Tô saindo. Tô só te esperando. Tô vindo de Uberaba, esperando pra ir embora.
COLABORADOR: Pra compensar pelo menos essa viagem aqui. Se você puder voltar aqui. Eu preciso..
MARCOS AURÉLIO: Você acha que o Carlos chega que dia?
COLABORADOR: Eu acho que a partir de segunda ele já tá aqui já.
MARCOS AURÉLIO: Então, faz o seguinte: você faz o depósito em conta. Tem nada a ver, não?
COLABORADOR: Você quer o depósito em conta?
MARCOS AURÉLIO: Deposita aí pra mim lá. Pronto. O bom é se você já tivesse o cheque que eu já levava e a gente acaba com isso...Depois você acerta com eles aí.
COLABORADOR: Arrendondou? Ficou R$ 3.700?
MARCOS AURÉLIO: Pronto. Fica bom assim?
COLABORADOR: Qual banco?
MARCOS AURÉLIO: Caixa Federal. Pus aí, não? Faz isso, então, na segunda-feira. Só te peço um negócio: Fez, manda mensagem falando enviado. Pronto. Sei lá, você manda alguma coisa pra mim.

Presidente Olegário

Vídeo mostra ex-prefeito de Presidente Olegário negociando propina

Vídeo mostra ex-prefeito de Presidente Olegário negociando propina

Outro vídeo mostra o ex-prefeito de Presidente Olegário, Antônio Claudio Godinho do PMDB, conhecido como “Palito”, acertando com o advogado o valor que vai receber de propina, 20% dos honorários por contratos feitos pela Prefeitura com o escritório de advocacia.

Na terça-feira (23), o MPE cumpriu mandados de busca de apreensão na casa de Antônio Claudio. O advogado do ex-prefeito disse por telefone que vai se manifestar nos autos do processo. O G1 entrou em contato com a atual adiministração do Município de Presidente Olegário, no entanto, as ligações não foram atendidas.

Veja a descrição do trecho que mostra o momento da negociação:

COLABORADOR: R$ 186.850,88 é os honorários. Agora deixa eu te falar: como é que ficou... como é que ficou o combinado, qual é a porcentagem?
"PALITO": Não era 20%?
COLABORADOR: Deixa os 20%?
COLABORADOR: E aí, menos o imposto de renda 13,33%... R$ 171.943,00, aí vezes os 20%, vai ser R$ 32.388,73. É isso?

Operação Isonomia

Operação foi realizada pelo Gaeco (Foto: Juarez Martins/Divulgação)Operação foi realizada pelo Gaeco (Foto: Juarez Martins/Divulgação)

Operação foi realizada pelo Gaeco (Foto: Juarez Martins/Divulgação)

Os promotores de Justiça do Gaeco, Adriano Bozola e Daniel Marotta, esclareceram em coletiva para a impensa nesta quarta-feira como funcionavam as negociações envolvendo sete prefeituras da região e os escritórios de advocacia Ribeiro Silva Advogados Associados, que teria recebido cerca de R$ 500 mil, e o Costa Neves, que executava a prestação de serviços de compensação de créditos tributários. O valor total adquirido pelos escritórios por meio do esquema fraudulento foi em torno de R$ 1,5 milhão, nos anos de 2015 e 2016.

Além de Carmo do Paranaíba e Presidente Olegário as cidades de Abadia dos Dourados, Canápolis, Centralina, Patrocínio e Perdizes também estão envolvidas na investigação. No entanto, até a publicação da reportagem, o G1 conseguiu imagens de negociações de propina apenas dos ex-prefeitos de Carmo do Paranaíba e Presidente Olegário, como divulgado acima.

Posicionamentos

Pela manhã, o G1 conversou por telefone com o advogado e proprietário da Ribeiro Silva, Rodrigo Ribeiro, que informou ainda não ter sido notificado oficialmente sobre as denúncias. Disse, ainda, que poderá se pronunciar depois de ter acesso aos autos e conhecimento das denúncias, o que ocorrerá nesta tarde. Com relação aos advogados do escritório Costa Neves, eles colaboraram com o Ministério Público e, por isso, não foram denunciados. Ainda sim a reportagem tentou falar nos telefones disponibilizados na internet, mas não conseguiu contato com algum responsável.

Sobre a denúncia envolvendo o prefeito de Perdizes, Fernando Marangoni (PSDB), ele renunciou ao cargo na noite desta terça-feira (23). Ele assinou o documento, que foi entregue à Justiça Eleitoral, de dentro do Presídio Professor Jacy de Assis, em Uberlândia. Ele foi flagrado na cidade recebendo R$ 20 mil em propina.

Nesta quarta (24), a reportagem voltou a tentar contato com a defesa do prefeito, no entanto ninguém atendeu as ligações. Contudo, a informação é de que já há um pedido de liberdade provisória para o político. Já a Câmara de Perdizes encaminhou um documento para o vice-prefeito, pedindo que ele assuma a Prefeitura. De acordo com o texto do Legislativo, o vice tem dez dias para retornar sobre o pedido.

Quanto ao ex-prefeito de Canápolis, Diógenes Roberto Borges (PP), ele disse que está aguardando a íntegra do processo para se ter um posicionamento sobre o caso.

Sobre a investigação envolvendo o ex-prefeito de Patrocínio, Lucas Campos de Siqueira, do (PPS), o assessor técnico e ex-procurador do Município, Otacílo Serrado, respondeu que "a Prefeitura não teria nenhum tipo de participação e não mantinha contratos com os escritórios citados." Além disso, Otacílio disse que todas as demandas eram feitas por advogados da Prefeitura e que eles teriam outro escritório que ficava por conta de fazer acompanhamento dos processos em segunda instância.

A reportagem não conseguiu contato com os demais investigados, que são: Isvaldino de Assunção, o "Dino", do PTB, ex-prefeito de Abadia dos Dourados; e o prefeito reeleito de Centralina, Elson Martins de Medeiros, do (PP).

saiba mais

Foto: (Carlos Moura/SCO/STF)

Mandato do atual procurador-geral termina em setembro.

0 comentários:

Postar um comentário