A Polícia Civil de Vilhena (RO) declarou na manhã deste sábado (26) que, a princípio, a morte do estudante Luiz Eduardo Silva Rover, de 21 anos, não tem envolvimento com a delação premiada que o pai dele, José Luiz Rover (PP), fez à Justiça. O ex-prefeito foi preso durante o segundo mandato, em novembro de 2016, e solto em junho deste ano. Ele é acusado de vários crimes, entre eles, corrupção e lavagem de dinheiro.
O crime aconteceu na noite de sexta-feira (25), no Bairro Jardim Eldorado, e foi registrado pela Polícia Militar (PM) como latrocínio – roubo seguido de morte. Um suspeito de 22 anos foi preso logo após o roubo. O outro suspeito de envolvimento na morte, um adolescente de 15 anos, foi apreendido na manhã deste sábado (26), em uma casa do Bairro Marcos Freire.
Depois de ouvir os suspeitos e os policiais envolvidos na ocorrência, o delegado titular da Delegacia Especializada na Repressão de Crimes Contra a Vida (DERCCV), Núbio Lopes de Oliveira, afirma que, em um primeiro momento, não há indícios que relacione a morte do jovem com a vida política de Rover.
Segundo Oliveira, por enquanto, a principal linha de investigação do crime é latrocínio. “A Polícia Civil não descarta nenhuma possibilidade, desde que cheguem elementos que modifiquem a roupagem da investigação", diz.
"Não há, até o instante, qualquer elemento que aponte que o fato foi decorrente da situação política do pai e sim, decorrente do desdobramento de um assalto. Não tem nenhum vínculo com delação premiada”, enfatiza Oliveira.
A arma de fogo que teria sido utilizada no crime, foi apreendida com o primeiro suspeito. Já com o adolescente, a Polícia Civil encontrou um celular roubado de uma das pessoas que estava na casa.
O jovem foi indiciado por latrocínio e levado para a Casa de Detenção do município. O adolescente vai responder por ato infracional equiparado a latrocínio, e foi encaminhado para a Casa da Cidadania.
Pelos dados levantados até o momento, a Polícia Civil acredita que o jovem de 22 anos tenha sido o autor dos disparos. As investigações do caso continuam.
Em depoimento na delegacia de Polícia Civil, o rapaz de 22 anos contou que morava em Tangará da Serra (MT) e veio há poucos dias morar com a mãe em Vilhena. Ele relatou que saiu, juntamente com um comparsa, para fazer um assalto à residência durante a noite.
Eles estavam de bicicleta e viram que na casa do ex-prefeito havia uma confraternização, então decidiram vigiar o local. Observaram quando a vítima retornou para casa, depois de ir comprar cerveja com um amigo, dirigindo uma caminhonete. Eles aproveitaram o momento em que o estudante abriu o portão, entraram na residência e anunciaram o roubo.
Pessoas que estavam na casa teriam reagido ao assalto e, por isso, ele teria atirado. Segundo o apurado, o criminoso disparou duas vezes, e um dos tiros atingiu o pescoço da vítima, que morreu logo após dar entrada no Hospital Regional.
O corpo está sendo velado na Câmara de Vereadores de Vilhena. Amigos da família informaram que o sepultamento foi transferido para a manhã de domingo (27).
Delação premiada
O advogado Josemário Secco, que defende Rover, explicou em entrevista ao G1 no início deste mês que a delação do cliente foi negociada por sete meses com o Ministério Público Federal (MPF) e Ministério Público Estadual (MPE).
As negociações começaram antes de Rover ser preso. O procedimento de colaboração foi concluído e assinado pelo delator, defesa e representantes dos Ministérios Públicos. Em seguida, a delação foi encaminhada para o Supremo Tribunal Federal (STF), pois envolve pessoa com foro privilegiado.
Segundo a defesa, ainda não há previsão de quando o documento será homologado. A delação segue em segredo de Justiça.
Condenação
Rover foi condenado a oito anos e seis meses de prisão, no início deste mês, em um dos processos pelo qual responde. Neste caso, ele e outros agentes públicos são acusados de solicitarem vantagem indevida a um empresário da cidade, sob a promessa de que diminuiriam a dívida tributária da empresa da suposta vítima. O esquema teria ocorrido entre 2014 e 2015.
O ex-prefeito foi condenado por lavagem de dinheiro e corrupção passiva. O juízo concedeu o direito de Rover responder em liberdade. A defesa está recorrendo da decisão.
José Luiz Rover foi prefeito por duas vezes em Vilhena. Ele foi eleito em 2008 com 18.944 votos e reeleito em 2012, com 19.649. No fim do segundo mandato, ele foi preso na Operação Áugias, realizada pela Polícia Federal em conjunto com o Ministério Público de Rondônia (MP-RO) e Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO).
As investigações apontaram que Rover era o chefe de uma organização criminosa que atuava no poder executivo. As autoridades estimam que mais de R$ 5 milhões tenham sido desviados da prefeitura em seis anos. No esquema, participavam ex-secretários municipais, servidores e empresários.
O dinheiro era desviado principalmente da Secretaria Municipal de Comunicação (Semcom) e da Secretaria Municipal de Obras (SEMOSP), mediante processos administrativos de reconhecimento de dívidas, nos quais empresas eram contratadas sem licitação.
Rover foi levado para o Centro de Correição da Polícia Militar em Porto Velho. Com o fim do mandato, o político deixou de ter foro privilegiado e deveria ser transferido para a Casa de Detenção do município, mas a defesa entrou na Justiça para pedir que Rover continuasse preso na capital.
Em junho deste ano ele teve a prisão preventiva substituída por medidas cautelares, entre elas, o uso de tornozeleira eletrônica.
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