sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

Médicos do Ceará fazem paródia em vídeo para denunciar problemas na saúde pública

Médicos denunciam precariedade na saúde em paródia de vinheta de fim de ano

Médicos denunciam precariedade na saúde em paródia de vinheta de fim de ano

Médicos cearenses gravaram uma paródia denunciando os problemas da saúde pública no estado. O vídeo, realizado pelos sindicato dos médicos e divulgado na internet no último dia 22 de dezembro, tem mais de 600 mil visualizações. Cerca de 50 profissionais, além de dois pacientes, participaram da gravação. Em resposta, as secretarias estadual e municipal da saúde enviaram nota negando os problemas relatados.

A paródia teve como base a música “Um Novo Tempo”, tradicional nas campanhas de fim de ano da TV Globo. A presidente do Sindicato dos Médicos do Ceará, Mayra Pinheiro, explica que a escolha foi feita para chamar atenção do estado e do país, já que, segundo ela, ao contrário da mensagem original da música, na saúde pública do Ceará “nada muda”.

Segundo Mayra Pinheiro, os profissionais foram motivados a fazer o vídeo após desabafo de um médico do hospital César Cals que tem mais de 50 anos de experiência.

“Um dos nossos médicos nos procurou chorando, dizendo que ia abandonar a medicina porque não aguentava mais assistir a morte dos doentes jovens por falta de medicamentos".

"Nós ficamos muito sensibilizados e aquilo virou pra gente um recomeço, porque estávamos cansados de fazer denúncia ao Ministério Público e falar com o Governo do Estado”, relata a presidente do sindicato.

O profissional em questão é José Otho Leal Nogueira. No vídeo, dedicado a ele, o médico aparece falando das dificuldades que vivencia na saúde pública. “Os problemas sempre existiram, mas chegou a um ponto de intolerabilidade".

"É cruel você morrer porque é pobre. Isso é intolerável, e eu vejo isso todo dia”, lamenta o médico.

Entre os problemas, Mayra Pinheiro denuncia a falta de insumos em hospitais tidos como referência; pacientes e familiares nos corredores de hospitais convivendo com sujeira e insetos; falta de medicamentos em postos; fila de espera para cirurgia e exames especializados; mortalidade hospitalar de até 30% em algumas unidades, e até órgãos jogados no lixo por falta de condições para realização do transplante.

Médico psiquiatra, Adelmo Pontes Aragão também participa da denúncia e afirma ter feito o vídeo para alertar sobre a situação da saúde mental no estado. “Fiz por conta da luta em favor de não fechar os leitos em hospitais mentais. Quem trabalha nos hospitais públicos vê a precariedade, isso vem crescendo nos últimos anos”, comenta.

Rede estadual

Em nota, Secretaria da Saúde do Estado do Ceará informou que a falta de insumos é pontual e deve-se a fatores externos e burocráticos. "Fatores que envolvem o fornecimento, como realinhamentos de preços, atrasos de entrega, requerimentos de troca de marca por parte dos ganhadores das licitações, além de trâmites burocráticos necessários para dar mais segurança ao processo de aquisição. Todas as unidades são reabastecidas à medida que insumos e medicamentos são entregues pelos fornecedores", afirma a nota.

Sobre a fila para cirurgias, a Sesa informou que de janeiro a novembro de 2017, os hospitais da rede do Governo do Ceará realizaram 59.910 cirurgias e 81.868 internações. "A projeção é que até o fim deste ano esses índices cresçam, respectivamente, 10% (cirurgias) e 12% (internações)", diz a nota.

Já com relação a mortalidade hospitalar na rede estadual, a secretaria afirma que o índice caiu 12% em 2017.

Rede Municipal

Também por meio de nota, a Secretaria Municipal da Saúde se posicionou afirmando que "nenhuma das denúncias formuladas pelo Sindicato dos Médicos é verdadeira com relação às unidades de saúde do Município de Fortaleza".

De acordo com a SMS, não há falta de insumos nas unidades de saúde do Município. "Se eventualmente houve falha no abastecimento, com falta pontual de algum item, foi decorrente do volume da demanda de atendimentos em uma unidade específica, mas assegura que a reposição sempre é feita em tempo hábil. Em relação às UPAS, a gestão da Saúde informa que não há nenhum registro de problemas em relação às unidades municipais".

Conforme a nota, "84 medicamentos prioritários da Atenção Básica estão garantidos nas 110 farmácias dos Postos de Saúde e nas seis Centrais de Distribuição de Medicamentos instaladas nos Terminais de Ônibus e que funcionam como suporte a uma eventual falta de qualquer um dos medicamentos no Posto de saúde".

Sobre a fila para exames especializados, a secretaria informa que, de acordo com a Central de Regulação, são realizados cerca de 120 mil exames especializados mensalmente na rede própria e conveniada.

Já sobre o Hospital da Mulher, também citado no vídeo, a nota diz que a gestão municipal implementou um novo modelo de funcionamento, resultando no aumento da capacidade de atendimento da unidade. "Hoje, a unidade funciona de forma completa, tendo registrado, até outubro deste ano, 140.397 atendimentos entre internamentos, partos, consultas médicas e ambulatoriais, além de 4.439 cirurgias".

0 comentários:

Postar um comentário