Um paciente de 58 anos morreu por falta de material cirúrgico no Hospital de Messejana Dr. Carlos Alberto Studart Gomes, da rede pública do Governo do Ceará. Há três meses, Maria das Dores e o filho chegaram em Fortaleza cheios de esperança de que o marido, Valcides Pereira, de 58 anos, fizesse um transplante.
Segundo familiares, ele tinha um problema sério no coração e em Santa Catarina, onde morava, não conseguiu fazer a cirurgia, por isso foi encaminhado para o Ceará. A família disse que Valcides ficou internado 47 dias e a família reforçou que nesse período surgiram quatro corações compatíveis para o transplante, mas a cirurgia não chegou a ser feita.
“Aparecia um coração, aquela expectativa: ai, hoje vai, amanhã já vai tá transplantado. Daqui a pouco, chegavam: olha não deu certo. Mas depois eu fiquei sabendo de fonte segura lá de dentro que realmente foi falta de material”, disse a comerciante Maria das Dores Deodato Pereira. “Eu fiquei sabendo que era a falta de um medicamento pra rejeição”, complementa.
“Não tem como aceitar e ainda tem mais gente lá esperando e ainda não tem”, afirmou o parente Israel Deodato Pereira.
Valcides não conseguiu esperar. Acabou morrendo no hospital do coração, que é pioneiro e referência em transplantes e cirurgias cardíacas no nordeste. O diretor do hospital, Frederico Augusto de Lima e Silva, confirma que os transplantes não estão acontecendo.
“Essa suspensão de transplante foi devido à falta de um material, de uma droga, de um remédio, que é imprescindível na realização desse procedimento e que a empresa não tem o insumo básico, então, ela não tá fabricando a tempo de nos entregar”
Falta de materiais básicos
As cirurgias no Hospital do Coração, em Fortaleza, começaram a ficar comprometidas no início do mês passado. Segundo médicos e funcionários que não querem se identificar, a ausência do medicamento citado pela direção do hospital não é o único motivo. Hoje, a lista de remédios e materiais em falta no centro cirúrgico é bem maior. Um documento de controle interno do hospital mostra a falta de quatro medicamentos, além de materiais, como cateter, compressas, dreno e fios de sutura.
“Algum fio de sutura inapropriado, às vezes, você, pelo tipo de agulha que vem diferente na compra, você tem que trocar, adiar a cirurgia enquanto troca, o que eu estou querendo dizer é que não há comprometimento, ou seja, eu desafio alguém que tenha chegado aqui, à exceção desse caso de transplante. Que tenha chegado com alguma urgência que não tenha sido operado”.
Em um vídeo feito por um acompanhante de um paciente mostra o hospital lotado, inclusive nos corredores. Muitos doentes a espera de cirurgia. O assistente administrativo Jonas Vidal diz que a mãe dele já está no hospital há dois meses e ainda não sabe quando vai sair.
“Ela está precisando de uma válvula no coração e de um stencil e por falta de material cirúrgico ela não está em condições de ser operada”, lamentou.
Segundo a Secretária de Saúde do Ceará, o fornecedor se comprometeu a enviar um primeiro lote do medicamento usado pelos pacientes que fazem transplante a partir da próxima semana. Outros lotes serão entregues em janeiro e fevereiro.
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