Os diretores do Departamento Municipal de Água e Esgoto de Uberlândia (Dmae), Carlos Henrique Lamounier e David Thomaz, foram afastados das funções do departamento depois de terem sido presos na Operação "Poseidon". O afastamento foi publicado pelo Município no Diário Oficial (DOM) desta sexta-feira (2).
A publicação menciona que o afastamento é liminar e temporário retroativo ao dia 1º de março. Lamournier assumia cargo de comissão como diretor-técnico do Dmae, enquanto Thomaz era comissionado como diretor-geral adjunto da autarquia, além de ser servidor efetivo como analista em Desenvolvimento Urbano. A defesa dos servidores não foi encontrada.
O Dmae informou, na manhã deste sábado (3), que está colaborando com as investigações e já forneceu à Justiça cópia e acesso a todos os documentos solicitados relativos às obras investigadas, desde a contratação até os dias atuais.
"Os servidores investigados estão sendo temporariamente afastados de suas funções, possibilitando maior transparência e lisura na condução dos trabalhos investigativos. Tão logo possam retornar, assumirão seus cargos novamente", informou a nota.
Sobre a situação do servidor municipal Manoel Calhau Neto, que também foi denunciado pelo Ministério Público Estadual (MPE) e ocupava, atualmente, cargo na Secretaria Municipal de Obras, não houve resposta.
Dinheiro foi desviado para construtora, aponta MP
A Promotoria de Justiça de Uberlândia, por meio do Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (Gaeco), investigou indícios de fraude na execução de três contratos celebrados entre o Dmae e a construtora Araguaia Engenharia, entre 2009 e 2010. Ficou apurado que o pagamento foi feito à empresa. No entanto, as obras não foram executadas na totalidade.
Na primeira fase da operação, foram presos Manoel Calhau Neto, que na época foi responsável pela fiscalização das obras, o presidente da Araguaia Daniel Vasconcelos Teodoro e o engenheiro da empresa, João Paulo Voss. As prisões ocorreram no dia 19 de fevereiro.
Já na segunda fase, deflagrada no dia 28 de fevereiro, foram cumpridos os mandados de prisão preventiva em desfavor de David Thomaz Neto, Carlos Lamounier Borges, e contra o ex-diretor geral do departamento em 2012, Epaminondas Honorato Mendes. Os seis foram levados para o Presídio Professor Jacy de Assis e permanecem presos.
O desvio dos recursos foi superior a R$ 8 milhões e, segundo o promotor Daniel Marotta Martinez, teria sido realizado para ajudar a Araguaia, que passou a enfrentar problemas financeiros e teve as contas bancárias penhoradas.
"Não há dúvidas de que o Dmae pagou a Araguaia por obras não executadas e equipamentos não comprados. O crime de peculato, que é o desvio, está comprovado sem sombra de dúvidas. Ele [Daniel Vasconcelos] classificou como 'apoio institucional' e os servidores do Dmae também confirmam que houve esse pagamento, mas na tentativa de se concluir as obras, pela importância que tinham na cidade", disse.
O promotor ainda disse que não há indícios de pagamento indevido em benefício de servidores ou terceiros. Os réus respondem pelos crimes de associação criminosa, falsidade ideológica, lavagem de dinheiro e peculato.
O MPE também vai instaurar novo inquérito para apurar sobre um seguro que as obras tinham, de cerca de R$ 90 milhões, e que não cobriu o valor para realização das obras na gestão municipal entre 2013 a 2016, que era de Gilmar Machado (PT).
A assessoria do político informou que o seguro foi acionado após auditoria interna da autarquia, porém o mesmo não foi pago, sendo ajuizada uma ação contra a seguradora para recebê-lo. O processo está em andamento na comarca de Uberlândia.
Novo contrato
Outro ponto levantado pela promotoria é sobre o Dmae ter contratado a nova empresa de um dos denunciados, João Paulo Voss, para executar obras de recapeamento na cidade sem licitação nesta gestão do prefeito Odelmo Leão (PP). A dispensa de licitação foi publicada no Diário Oficial do Município no dia de 18 de janeiro com um contrato de R$ 290,4 mil e com a assinatura de Carlos Lamounier.
"O contrato se presume lícito até que a gente tenha alguma irregularidade. Mas é um indicativo de que essas pessoas continuaram influenciando a gestão do dinheiro do Dmae, que é dinheiro público. Não se faz favor com dinheiro público, não existe apoio institucional com dinheiro público", finalizou o promotor.
A autarquia foi questionada pelo G1 sobre a dispensa de licitação e se foi adequado firmar o contrato mesmo com o empresário diretamente envolvido nas obras que não foram finalizadas quando era engenheiro da Araguaia.
Em nota, a assessoria de comunicação do Dmae respondeu que a contratação foi emergencial com o prazo de execução de 30 dias para realização dos serviços de fornecimento de massa asfáltica.
A contratação se deu nos termos legais permitidos pela Lei Geral de Licitações, considerando o encerramento dos contratos de fornecimento, da grande expectativa de demanda existente de manutenção para janeiro de 2018, em virtude das chuvas, e da não conclusão do pregão eletrônico nº 126/2017 - em razão das disputas administrativas entre as licitantes.
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