sábado, 31 de dezembro de 2016

Imagens de imóveis que não existem mais ilustram calendário em MG

Casa do Juiz de Fora ilustra janeiro no calendário 2017 da Funalfa (Foto: Funalfa/Divulgação)Casa do Juiz de Fora, no Bairro Vitorino Braga, é a imagem de janeiro no Calendário 2017 da Funalfa (Foto: Funalfa/Divulgação)

O calendário 2017 elaborado pela Fundação Alfredo Ferreira Lage (Funalfa) quer despertar sentimentos de saudade, pertencimento e cobrança em Juiz de Fora. Para o próximo ano, foram escolhidas 14 imagens feitas pelo artista plástico Ramon Lima Brandão que lembram imóveis que não existem mais na cidade. A retirada é gratuita, mediante a apresentação de um documento de identificação, na sede da Funalfa, na Avenida Rio Branco 2.234, Centro, no horário comercial.

O artista disse ao G1 que a experiência despertou memórias pessoais. E o arquiteto e integrante do Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Cultural (Compacc), Marcos Olender destacou a importância de conscientizar para impedir mais perdas para a história da cidade.

Detalhe da pintura do Colégio Stella Matutina no calendário 2017 da Funalfa (Foto: Funalfa/Divulgação)Detalhe da pintura do Colégio Stella Matutina,
destaque de setembro (Foto: Funalfa/Divulgação)

A pessoa vai relembrar ou descobrir prédios como os do Colégio Stella Matutina e sua capela, o da Biblioteca Municipal no Parque Halfeld, a casa do Juiz de Fora no Bairro Vitorino Braga, o casarão do Bispo, que foram demolidos; a Tecelagem Santa Cruz, que se tornou um shopping e o Palacete dos Fellet, que atualmente está em ruínas.

As páginas trazem fragmentos de textos dos poetas e escritores Manuel Bandeira, Rachel Jardim, Wilson de Lima Bastos, Carlos da Rocha, Fernando Fiorese e Lindolfo Gomes e informações sobre os imóveis destacados.

"A gente vê que a reação das pessoas que já retiraram o calendário é de 'olha quanta coisa a gente perdeu'. Os temas do calendário, como já foram os vitrais, os ladrilhos hidráulicos, os detalhes de imóveis são escolhidos para fazer com que as pessoas possam ver diariamente nas suas paredes, em uma ação de educação patrimonial", destacou o superintendente da Funalfa, Toninho Dutra.

'O garoto do calendário'
É desta forma bem humorada que o artista plástico Ramon Brandão começa a descrever a experiência e as emoções desde a criação até ver o resultado. "Depois de tudo, na minha idade, quem diria que virei o garoto do calendário? O interessante é que ano pelas ruas e vejo as pessoas carregando. Dá uma sensação legal ver que o trabalho está chegando a ao público em todos os lugares possíveis", contou.

Brandão explicou que viu muitos dos locais retratados no calendario. "Na produção das imagens, eu tinha referências porque eu vi muitos deles em sua plenitude. Passava pela casa do Bispo, fui a apresentações e cerimônias na capela do Stella Matutina. Só não me lembro muito do Colégio Stella Matutina porque quando ele foi demolido, eu morava no Rio", explicou.

Meu pai era representante comercial e, durante um tempo, a tecelagem foi nossa cliente. Eu me lembrei do dia que datilografei a ficha cadastral, com o meu pai 'no cangote' me orientando a não escrever errado. "
Ramon Brandão lembrando a
Tecelagem Santa Cruz

No entanto, com uma das imagens, o artista plástico tem uma lembrança muito pessoal da Tecelagem Santa Cruz, que ocupava um quarteirão entre as ruas Benjamin Constant e São Sebastião, onde atualmente é um shopping center.

"O que deu emoção diferente foi a Tecelagem Santa Cruz. Ao ver a foto, eu voltei aos anos de 1980. Meu pai era representante comercial e, durante um tempo, a tecelagem foi nossa cliente. Eu me lembrei do dia que datilografei a ficha cadastral, com o meu pai 'no cangote' me orientando a não escrever errado. Eu me surpreendi de ele estar no calendário, porque é um imóvel moderno, das décadas de 1950-1960, que tinha uma arquitetura muito bonita por dentro. E quem passava pelo paredão na Rua Jarbas de Lery Santos conseguia ouvir o barulho das máquinas", relembrou.

Imagens do artista plástico Ramon Lima Brandão ilustram o calendário 2017 da Funalfa (Foto: Ramon Lima Brandão/Facebook)'O garoto do calendário' Ramon Brandão fez as ilustrações, como a do Palacete dos Fellet que é a capa da edição de 2017 da Funalfa (Foto: Ramon Lima Brandão/Facebook)

Registro da paisagem urbana perdida
Para o arquiteto e integrante do Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Cultural (Compacc), Marcos Olender, a temática do calendário permite o resgate do que a cidade já perdeu. "Faz o registro dos imóveis que desapareceram ou estão em vias de desaparecer, ou arruinados como o Palacete dos Fellet, que não existe mais enquanto presença arquitetônica íntegra. É um resgate do passado da paisagem urbana que se foi", disse.

Ele considera a iniciativa relevante para a conscientização dos moradores sobre a importância da preservação do patrimônio e, quem sabe, impedir outras perdas. "Temos estas casas e edificações que são importantes como forma de se identificar e se reconhecer na cidade onde moramos. Pode contribuir para as pessoas entenderem que, se nada for feito, as únicas lembranças delas serão gravuras ou páginas de calendário, infelizmente", afirmou Olender.

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