segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Pacientes de falso cirurgião relatam traumas e pedem prisão de médico

Médico Carlos Jorge Cury Mansilla (Foto: Reprodução/ Câmara dos Deputados)Médico Carlos Jorge Cury Mansilla
(Foto: Reprodução/ Câmara dos Deputados)

Seis anos após passar por três cirurgias plásticas com o médico Carlos Jorge Cury Mansilla - que teve o registro profissional cassado, a artista plástica Emília Alencar ainda tem trauma e sofre ao lembrar dos procedimentos que deixaram marcas em seu corpo. A retirada dos pontos pós-cirúrgico é uma das lembranças que causam dor à artista plástica.

"Ele retirava [os pontos] com pedaços de carne minha, não havia aquela preocupação de fazer o corte e puxar com a pinça, nada, ele fazia de qualquer jeito e vinha pele e carne", conta uma das vítimas do falso cirurgião.

Depois da cirurgia, a paciente precisou fazer uso de diversos remédios e ficou com várias cicatrizes pelo corpo. "Ele me passou muita segurança, eu fui confiante, em nenhum momento eu achei que ficaria com sequela ou um resultado malsucedido", diz.

Outra paciente que relata ter sido vítima do médico disse que ele passava credibilidade nas consultas e nunca desconfiou que estivesse sendo vítima de um golpe de um falso profissional. "Ele falava muito bonito. Eu tinha acabado de perder um filho e estava muito [...]. Ele se aproveitou da situação e falou tudo o que eu queria escutar e a autoestima ficou para cima e, para mim, ia dar tudo certo, eu ia acordar linda e deu tudo errado", diz ela, que não quis ser identificada.

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Resquícios
Uma paciente, que também não quis se identificar, conta que até hoje tem no corpo materiais usados na cirurgia.

"Eu tentei falar com ele, o telefone estava todo tempo desligado. Falei com a enfermeira que ele tinha deixado responsável e fui em uma outra clínica. Eles começaram a tirar os pontos, mas era uma dor tão horrível que eu chorava e saía sangue porque não cortavam os pontos. Tanto é que até hoje eu tenho um monte de pontos, tanto na abdominoplastia quanto na mamoplastia. Acho que a melhor parte seria se ele fosse preso porque ai já era um alívio de 80% pra gente. Quem vai garantir que ele não vai continuar fazendo isso? Até onde a gente sabe, ele era clínico geral, não tinha especialização nenhuma para sair fazendo um absurdo desse", argumenta.

O médico Carlos Cury foi denunciado em fevereiro de 2013, depois que pacientes ficaram mutiladas nos procedimentos cirúrgicos feitos por ele. Ele responde a 15 processos por complicações pós-cirúrgicas. Três das vítimas morreram.

Vítimas relatam que tiveram corpo mutilado por médico (Foto: Reprodução/Rede Amazônica)Vítimas relatam que tiveram corpo mutilado por
médico (Foto: Reprodução/Rede Amazônica)

Prisão
A psicóloga e mestre em história Maria do Carmo é presidente da ONG Vítimas Unidas criada em Rondônia para unir as vítimas dos procedimentos. Ela diz que a pacientes ficaram aliviadas com a cassação do registro de médico de Cury pelo Conselho Federal de Medicina, mas ainda esperam que ele seja preso.

"Ele tem muitos processos criminais correndo em Manaus, infelizmente, porque a Justiça é surda, cega e muda. Nós temos mais de 100 mil pessoas na ONG, temos jurista, temos o maior criminologista de São Paulo, temos vários Conselhos Regionais de Medicina. Não temos a menor dúvida de que ele será penalizado porque o objetivo dele era caça-níquel, era ganhar dinheiro. Se a Justiça brasileira andar, a de Manaus principalmente ele será preso", diz a presidente das Vítimas Unidas.

Processos
De acordo com o presidente em exercício do Conselho Regional de Medicina do Amazonas, Antônio Medeiros, 20 processos contra Cury tramitam no Conselho. Destes, dois foram julgados e resultaram na cassação do médico na esfera regional em 2015. Um segue em fase de revisão processual.

Em novembro de 2016, cinco das oito vítimas de Cury foram ouvidas 11ª Vara Criminal. De acordo com o Tribunal de Justiça do Amazonas, o processo continua na fase das audiências de instrução. As novas audiências estão marcadas para os dias 10, 11 e 12 de abril, quando deverão ser ouvidas uma vítima e oito testemunhas, com três audiências cada dia.

Quanto ao réu, a defesa solicitou que ele seja ouvido por carta precatória, pelo Juízo de Guajará Mirim (RO). A juíza titular da 11ª Vara Criminal de Manaus, responsável pelo processo, está analisando o pedido.

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