Jovem nasceu em Uberlândia e atualmente encabeça projetos sociais nas periferias de Bom Despacho, onde lançará a obra chamada 'Alguns (pré) textos nas canções de Belchior num Brasil ufanista', no dia 27 de maio.
Será lançado no dia 27 de maio em Bom Despacho e em outras cidades do estado o livro "Alguns (pré) textos nas canções de Belchior num Brasil ufanista". Escrito pelo mineiro de Uberlândia, Eder Deivid, o livro faz análises de duas músicas do poeta e compositor cearense Belchior, de 70 anos, que faleceu na madrugada de domingo (30) em Santa Cruz do Sul (RS).
Eder contou ao G1 que o projeto do livro nasceu dentro da faculdade de letras no Paraná, em 2014, quando começou a pensar o assunto para o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). Entretanto, relatou que a grande afinidade e admiração pelo poeta apareceu de maneira tímida, ainda na adolescência. Ele só não imaginava nesta épocaque mais tarde essa intimidade com a obra do autor ganharia corpo e seria eternizada em um livro.
Até concluir o livro, Eder lembra que o caminho não foi tão simples. O primeiro desafio foi encontrar um orientador para o trabalho, considerado ousado pelos professores da universidade. Apenas alguém com uma familiaridade mais acentuada com a música popular brasileira seria capaz de nortear os rumos do projeto, afinal, ele pretendia analisar várias canções parcial ou totalmente censuradas de Belchior.
Ele então apresentou a ideia ao professor Marcos Hidemi, que logo quando ouviu a proposta abraçou a ideia. Marcos já havia feito uma especialização em literatura sobre algumas canções da peça teatral "Ópera do malandro", de Chico Buarque. A proposta de Eder, portanto, o colocava novamente na esfera da canção popular brasileira.
O estudante então foi orientado à época, a analisar duas composições, sendo: “Pequeno mapa do tempo” e “Caso comum de trânsito”. Ambas tinham sofrido interdições por parte da censura do governo militar (1964-1985). A limitação se deu por conta do tempo para pesquisar e da extensão reduzida que caracteriza um TCC. A partir das letras das duas canções compostas por Belchior e das alegações dos censores, Eder construiu uma análise sobre a intervenção do Estado nas duas produções artísticas.
De um trabalho de conclusão de curso, o texto de Eder deu origem então ao livro, que não se restringe à análise das duas importantes composições, mas sobretudo, trata com clamor os dizeres entoados nas canções. “É como se o leitor estivesse mirando o interior de um caleidoscópio e a cada movimento do aparelho tivesse contato com uma nova imagem. Ou seja, as duas canções estudadas no e pelo caleidoscópio-análise de Eder fazem descortinar aos olhos do leitor uma multiplicidade de leituras que somente criações musicais de alto quilate são capazes de proporcionar”, comentou o professor e orientador de Eder, Marcos Hidemi.
“Num dos primeiros movimentos de seu caleidoscópio-análise, Eder apresenta um panorama dos anos de chumbo no Brasil, arrolando informações relevantes que permitem aos leitores detectar, por exemplo, que a institucionalização da censura contra produções artísticas, de forma legalizada, remonta ao governo de Getúlio Vargas (1930-1945). É dessa época a criação do Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), cuja função era coibir, na esfera da criação artística, quaisquer críticas ao sistema político vigente. Mostrar a censura como um elemento muito presente no dia a dia dos brasileiros é um dos méritos deste livro”, completou o professor.
Para Eder, que caminha há tantos anos com a responsabilidade de analisar tão amplamente a obra do poeta, a admiração se eterniza ainda mais viva com a morte do compositor. “Nosso poeta multifacetado que pensou e questionou a realidade ditatorial com o teor crítico de suas letras causou incômodos aos censores da ditadura, pois sempre atuou de maneira pungente e realista diante das atrocidades que o governo militar cometia, em um processo de analogia com os tempos atuais não ficamos equidistantes desta situação ditatorial. Com a morte do mestre o pensamento que pendura é que os grandes mestres vão, mas os seus ensinamentos são eternos”, finalizou.
Biografia do autor
Eder Deivid nasceu em Uberlândia em 1991. Graduado em letras pela Universidade de Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), campus Pato Branco, é diretor e professor de língua portuguesa, redação e literatura no Núcleo de Educação e Cultura Tipura. Eder é escritor, poeta, músico e compositor, além de ser ativista nas questões sociais e culturais. Atualmente mora em Bom Despacho onde encabeça projetos sociais nas periferias.
Trajetória de Belchior
Na infância no Ceará, Belchior estudou piano e música coral e trabalhou no rádio na cidade natal. O pai tocava flauta e saxofone e a mãe cantava em coro de igreja. Mudou-se em 1962 para Fortaleza, onde estudou Filosofia e Humanidades. Também chegou a estudar Medicina, mas abandonou o curso em 1971 para se dedicar à música.
Começou apresentando-se em festivais pelo Nordeste. Fez parte do chamado Pessoal do Ceará, que inclui artistas como Fagner, Ednardo, Rodger e Cirino. Depois do sucesso de "Mucuripe", mudou-se para São Paulo, onde compôs trilhas sonoras para filmes e passou a fazer shows maiores e aparições em programas de televisão.
Em 1974, lançou seu primeiro disco, "A palo seco", cuja música título se tornou sucesso nacional e ganhou versões ao longo da história, como a de Oswaldo Montenegro e da banda Los Hermanos.
Outros artistas também regravaram sucessos de Belchior, entre eles Roberto Carlos ("Mucuripe"), Erasmo Carlos ("Paralelas"), Engenheiros do Hawaii ("Alucinação"), Wanderléa ("Paralelas") e Jair Rodrigues ("Galos, noites e quintais"). Elis Regina foi uma de suas maiores intérpretes: além de "Como nossos pais", gravou "Mucuripe", "Apenas um rapaz latino-americano" e "Velha roupa colorida".
Em 1982, o cantor lançou "Paraíso", que tem participações dos àquela época ainda jovens artistas Guilherme Arantes, Ednardo Nunes, Jorge Mautner e Arnaldo Antunes. Fundou sua própria gravadora e produtora, a Paraíso Discos, em 1983. Ao longo da carreira, Belchior teve mais de 20 discos lançados.
Também gravou composições outros artistas, como "Romaria", de Renato Teixeira. No disco "Vício elegante", de 1996, canta apenas músicas de colegas, entre elas "Almanaque", de Chico Buarque, "Esquadros", de Adriana Calcanhoto, e "O nome da cidade", de Caetano Veloso.
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