quarta-feira, 30 de agosto de 2017

Após anúncio polêmico de aluguel para venezuelanos, prefeita de Boa Vista recua e diz que busca locação de abrigos coletivos

Prefeita de Boa Vista fez post no Facebook após reunião em Brasília. (Foto: Reprodução/Facebook/Teresa Surita)Prefeita de Boa Vista fez post no Facebook após reunião em Brasília. (Foto: Reprodução/Facebook/Teresa Surita)

Prefeita de Boa Vista fez post no Facebook após reunião em Brasília. (Foto: Reprodução/Facebook/Teresa Surita)

Menos de uma semana após anunciar o Aluguel Solidário para venezuelanos que estão em situação de rua em Boa Vista, a prefeita Teresa Surita (PMDB) recuou e publicou no Facebook que agora tenta viabilizar junto ao governo federal a locação de abrigos coletivos para mulheres e crianças venezuelanas em situação de rua.

No dia 24 deste mês, Teresa convocou uma coletiva de imprensa para anunciar medidas para lidar com a crescente imigração de venezuelanos na capital de Roraima.

Na ocasião, a prefeita disse que tentava, junto ao governo federal, recursos para o pagamento de aluguéis de casas para venezuelanos que estão vivendo nas ruas e praças de Boa Vista. A medida causou polêmica nas redes sociais, motivou um protesto em frente à prefeitura e virou motivo de debate da Câmara de Vereadores da capital.

Na coletiva, ela foi questionada sobre a origem do dinheiro para o pagamento dos aluguéis e afirmou que o valor, oriundo do Ministério do Desenvolvimento Social, seria repassado de acordo com o número de moradores das residências.

Família de venezuelanos têm vivido nas ruas e praças de Boa Vista (Foto: Rede Amazônica Roraima/Reprodução)Família de venezuelanos têm vivido nas ruas e praças de Boa Vista (Foto: Rede Amazônica Roraima/Reprodução)

Família de venezuelanos têm vivido nas ruas e praças de Boa Vista (Foto: Rede Amazônica Roraima/Reprodução)

"O recurso vem do Ministério do Desenvolvimento Social. Nós não sabemos o valor exato, porque não sabemos o número de pessoas e depende do tamanho da casa. Normalmente é R$ 700 o aluguel para três pessoas, R$ 900 para cinco e R$ 1200 para sete. Normalmente, esse é o mercado daqui", afirmou no dia da coletiva, acrescentando que os valores seriam pagos às famílias por até seis meses.

Na noite desta terça-feira (29), no entanto, Teresa Surita publicou no Facebook que teve uma reunião no Palácio do Planalto, em Brasília, para possibilitar a locação de abrigos coletivos para até 50 pessoas, sendo mulheres e crianças venezuelanas em situação de extrema vulnerabilidade social.

"Não serão atendidos homens solteiros e ninguém em casas individuais como tentaram passar, em hipótese nenhuma. Portanto, não adianta chegar em Boa Vista com esta expectativa, pois isso não acontecerá", declarou na rede social.

No texto, a prefeita diz que foi "completamente mal interpretada a palavra 'aluguel solidário' [sic]" e afirma que não serão pagos aluguéis individuais aos estrangeiros.

"O primeiro esclarecimento que quero fazer, é que fique bem claro, que nem a prefeitura e nem o governo federal vão pagar aluguel de casas individuais para venezuelanos e nem para ninguém. As pessoas interpretaram que seriam alugadas casas individuais para os venezuelanos e não é essa a proposta que estamos construindo. Isso nunca existiu", declarou.

Prefeitura diz que abrigos eram proposta inicial

O G1 fez contato com a assessoria da prefeitura de Boa Vista para saber o que levou a mudança na proposta de Teresa Surita. Por meio de nota o município comunicou que a proposta inicial da gestora já era o uso de espaços públicos para abrigamento dos venezuelanos.

Na segunda, manifestantes protestaram em frente a Prefeitura de Boa Vista e criticaram aluguel solidário para venezuelanos (Foto: Inaê Brandão/G1 RR)Na segunda, manifestantes protestaram em frente a Prefeitura de Boa Vista e criticaram aluguel solidário para venezuelanos (Foto: Inaê Brandão/G1 RR)

Na segunda, manifestantes protestaram em frente a Prefeitura de Boa Vista e criticaram aluguel solidário para venezuelanos (Foto: Inaê Brandão/G1 RR)

"Porém, naquele momento, o próprio Governo Federal sugeriu a adoção do aluguel solidário", diz a nota, acrescentando que, a partir de agora, a metodologia de acolhimento se dará por abrigos "conforme apresentado inicialmente pelo Plano de Ação do Município, que terá capacidade para atender 50 mulheres e crianças em situação de vulnerabilidade".

A nota frisa ainda que os custos com essa operação serão todos de responsabilidade do governo federal, sem nenhum aporte financeiro do município.

Venezuelanos em Roraima

Desde 2016, milhares de venezuelanos migraram para Roraima, segundo dados da Polícia Federal. Muitos atravessam a fronteira, em Pacaraima, Norte do estado, em busca de comida, remédios e emprego. O governo estima que 30 mil venezuelanos vieram para Roraima no último ano.

Venezuelanos fazem fila diariamente em frente a Polícia Federal em Pacaraima (Foto: Inaê Brandão/G1 RR)Venezuelanos fazem fila diariamente em frente a Polícia Federal em Pacaraima (Foto: Inaê Brandão/G1 RR)

Venezuelanos fazem fila diariamente em frente a Polícia Federal em Pacaraima (Foto: Inaê Brandão/G1 RR)

Procurando regularização no estado, todos os dias eles tentam conseguir a autorização para ficar no país e os dados da Polícia Federal no estado impressionam. Só no primeiro semestre de 2017, 5.787 pedidos de refúgio foram feitos à sede da PF em Roraima. No ano anterior foram 2.230.

O número de pedidos de carteira de trabalho também bateu recorde. Em apenas 7 meses, o Ministério do Trabalho em Roraima emitiu mais de 3 mil documentos a venezuelanos, o dobro do registrado em todo ano passado.

Para conseguir dinheiro e, muitas vezes enviar para familiares no país vizinho, muitos deles fazem bicos nos semáforos de Boa Vista, limpando vidros de veículos, vendendo objetos, frutas e doces. Grande parte são formados e decidiram abandonar a vida que tinham para tentar recomeçar no Brasil, mesmo que em situações informais.

O G1 foi até a região de fronteira e conversou com venezuelanos que buscam autorização na Polícia Federal para entrar legalmente em Roraima. Alguns fogem do regime do presidente Nicolás Maduro e outros chegam a viajar cerca de 1.000 quilômetros para comprar alimentos.

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