Foi aberto na manhã deste sábado (9) o quarto abrigo para imigrantes venezuelanos em Roraima. Denominado Centro de Acolhimento, o local, que fica na capital Boa Vista, foi inaugurado pela ONG Fraternidade Sem Fronteiras, cinco dias depois do governo decretar situação de emergência diante da intensa imigração venezuelana para o estado.
O Centro tem capacidade para receber até 100 pessoas e fica no bairro Senador Hélio Campos, na zona Oeste da cidade.
Desde o final de 2015, Roraima enfrenta o desafio de receber um grande e crescente número de imigrantes venezuelanos que entram no Brasil pela fronteira do estado. Eles fogem da fome, do desemprego e da falta de serviços de saúde no país governado por Nicolás Maduro.
Segundo Wagner Moura, presidente da Fraternidade Sem Fronteiras, a realidade dos venezuelanos em Roraima chamou a atenção da ONG que já desenvolve trabalhos humanitários em outras partes do mundo.
“A nossa organização já faz um trabalho humanitário na África e quando vimos a realidade dos venezuelanos em Roraima, relacionada à imigração, nós viemos a Boa Vista para darmos nossa contribuição”, explica Wagner Moura.
Moura disse que a vulnerabilidade de crianças venezuelanas que vivem nos outros dois abrigos de Boa Vista foi determinante para a criação do Centro de Acolhimento. Por isso, o local é destinado a famílias com filhos pequenos, idosos e gestantes.
“São famílias em situações muito complexas, por isso surgiu a ideia de contribuirmos. Vamos acolher 100 famílias, prioritariamente com crianças, idosos e gestantes, que são mais vulneráveis. Futuramente pretendemos aumentar esse número”, diz.
De acordo com Moura, o Centro terá diariamente refeições, água, banheiros e barracas para as famílias. O local vai funcionar como uma comunidade, porque terá regras de funcionamento e até escola. O custo de manutenção será de R$ 30 mil por mês, valor que deve ser arrecadado em forma de donativos.
“O ambiente será bem cuidado. São 20 dez banheiros, sendo 10 masculinos e 10 femininos. Teremos uma escola para crianças e ainda oficinas que serão ministradas pelos próprios venezuelanos. Há muitos profissionais aqui”, destaca Moura.
Uma das primeiras a chegar ao Centro foi a venezuelana Johaglis Gil, de 20 anos. Ela levou para lá os dois filhos, uma bebê de 2 meses e um m de 3 anos.
“Aqui terei mais tranquilidade. Onde estava anteriormente, era mais complicado. Além dos meus filhos, vim para o Brasil com meu marido. Mas estamos ainda sem trabalho. O Centro vai nos garantir mais segurança, até arranjarmos algum emprego”, conta.
A gestora do Centro, a venezuelana Alba Marina Gonçalez, acrescenta que a comunidade será coordenada com um regimento.
“Teremos horário de entrada e saída. Uma escala para eles [abrigados] se organizarem, sabendo quem cuidará da cozinha, da limpeza. Tudo será criado em conjunto”, cita.
Ela disse que duas horas depois de ser aberto, 80 pessoas já estavam abrigadas no local e que a expecativa é que o local acolha um total de 300 venezuelanos.
“Tudo será feito aos poucos. Teremos de nos acostumar a rotina como uma comunidade. Temos uma escola que não é regular. Mas haverá professores para educar as crianças venezuelanas”, acentua.
Imigração em massa
De janeiro a outubro de 2017, mais de 14 mil venezuelanos já fizeram o pedido de refúgio em Roraima. O número seis vezes maior do que o registrado em 2016. Com o aumento da crise econômica e política no país vizinho, este ano a procura já é quase cinco vezes maior que a soma de todos os pedidos feitos de 2014 a 2016.
O governo do estado estima que 30 mil venezuelanos tenham entrado em Roraima desde 2016. A imigração cresce conforme a crise na Venezuela se alastra nos setores de emprego, alimentos e remédios.
Com a intensa imigração, vários setores do estado, da capital e de Pacaraima, cidade na fronteira entre Brasil e Venezuela é porta de entrada dos imigrantes, tiveram que se adaptar.
Em dois anos, o estado abriu três abrigos e decretou situação de emergência no início de dezembro. A portaria deixou em em alerta as Secretarias de Saúde, Trabalho e Bem Estar Social, Justiça e Cidadania e de Comunicação para auxiliar os imigrantes.
Conforme dados divulgados pela Polícia Federal em Roraima, a maioria dos venezuelanos que migram para o estado são de Caracas, capital do país. Mais de 58% são homens e jovens entre 22 e 25 anos. A maior parte deles são estudantes (17,93%), seguidos por economistas (7,83%), engenheiros (6,21%) e médicos (4,83%).
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