sexta-feira, 2 de março de 2018

'Durmo e acordo com medo', diz ribeirinha sobre perder casa pela erosão no Bailique

Com a porta de casa a menos de três metros do rio, a ribeirinha Marta Corrêa Campos, de 59 anos, teme pelo risco de ter a residência "engolida" pelo rio Amazonas, em função do avanço frequente e da erosão intensa das encostas. A destruição é provocada pelo fenômeno conhecido como "terras caídas", que nos últimos anos tem comprometido a estrutura das ilhas do arquipélago do Bailique, a 180 quilômetros de Macapá, na foz do maior rio do planeta.

Para a dona de casa, que vive no mesmo espaço com outros 14 familiares, sendo seis crianças, o temor pelo desabamento é quase diário e ainda pior no período de inverno, entre novembro e maio. "Está muito perigoso, a gente dorme e acorda com medo, porque não tem hora para cair. De dia, de noite", recordou Marta, que diz morar há 30 anos na área.

Marta Corrêa Campos, de 59 anos, moradora da Vila Progresso (Foto: John Pacheco/G1)Marta Corrêa Campos, de 59 anos, moradora da Vila Progresso (Foto: John Pacheco/G1)

Marta Corrêa Campos, de 59 anos, moradora da Vila Progresso (Foto: John Pacheco/G1)

Ela lembra que não morava em frente ao rio, mas que passou a ter a visão do Amazonas após o desmoronamento das áreas, que se estendiam a pelo menos 30 metros à frente, recordou. "Antes na frente de casa passava um igarapé, e depois do igarapé tinha a beira do rio", detalha a moradora da Vila Progresso.

O crescimento do fenômeno provocou a decretação da situação de emergência na região pelo Governo do Amapá em 23 de fevereiro. Segundo levantamento da Defesa Civil, pelo menos 13 comunidades sofrem com o fenômeno que já atingiu, total ou parcialmente, 168 edificações públicas e privadas, afetando ao todo 715 moradores.

Casas condenadas pelo fenômeno no arquipélago do Bailique (Foto: John Pacheco/G1)Casas condenadas pelo fenômeno no arquipélago do Bailique (Foto: John Pacheco/G1)

Casas condenadas pelo fenômeno no arquipélago do Bailique (Foto: John Pacheco/G1)

Além do perigo de desabamento das residências na margem do rio, outros danos foram apontados pela Defesa Civil, entre eles a queda de passarelas de madeira, prejuízo em postes de energia, perdas financeiras de comerciantes, além do dano à rede de distribuição de água tratada.

O prejuízo econômico afetou nos últimos anos a empresária Creuzalina Portal, de 70 anos, que tem um comercial na Vila Progresso, a maior do arquipélago. Em função da aceleração da erosão, foi obrigada a reduzir o tamanho do estabelecimento, que atualmente corre risco de cair.

"Já 'cortei' pela terceira vez a minha casa. Meu comércio já foi grande. Tive uma perda muito grande, o comércio caiu. As coisas venceram todas, fui obrigada a jogar tudo fora. É uma coisa sem retorno", lamentou Creuzalina, que pretende deixar a comunidade e retornar para Macapá.

Mercantil da comerciante Creuzalina Portal Rodrigues, de 70 anos (Foto: John Pacheco/G1)Mercantil da comerciante Creuzalina Portal Rodrigues, de 70 anos (Foto: John Pacheco/G1)

Mercantil da comerciante Creuzalina Portal Rodrigues, de 70 anos (Foto: John Pacheco/G1)

Comerciante diz que pretende deixar a comunidade em função dos prejuízos (Foto: John Pacheco/G1)Comerciante diz que pretende deixar a comunidade em função dos prejuízos (Foto: John Pacheco/G1)

Comerciante diz que pretende deixar a comunidade em função dos prejuízos (Foto: John Pacheco/G1)

Escola Bosque

O efeito das águas passou a atingir também a escola Bosque do Bailique, que atende a quase 1 mil alunos das comunidades. O avanço provocou em janeiro a retirada de parte da estrutura do local, que estava sendo destruída pela erosão.

Quando foi inaugurada, a escola ficava há pelo menos 30 metros da margem do rio. Foram retiradas quatro salas e um bloco administrativo. A Secretaria de Estado da Educação (Seed) informou que as aulas não serão prejudicadas e o ano letivo iniciará normalmente em 12 de março.

Estrutura removida da Escola Bosque estava próxima de desmoronar (Foto: John Pacheco/G1)Estrutura removida da Escola Bosque estava próxima de desmoronar (Foto: John Pacheco/G1)

Estrutura removida da Escola Bosque estava próxima de desmoronar (Foto: John Pacheco/G1)

Remanejamento

Uma proposta da Defesa Civil e do Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá (Iepa) quer retirar as famílias das encostas e transferir para áreas mais distantes das margens. As medidas emergenciais serão apresentadas para os moradores no dia 10 de março em audiência na Vila Progresso, sede distrital do Bailique.

Rio teria avançado pelo menos 20 metros para dentro da margem (Foto: John Pacheco/G1)Rio teria avançado pelo menos 20 metros para dentro da margem (Foto: John Pacheco/G1)

Rio teria avançado pelo menos 20 metros para dentro da margem (Foto: John Pacheco/G1)

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