domingo, 24 de dezembro de 2017

Distante de casa, venezuelanos preparam comidas típicas e se unem para ceia de Natal em abrigo de RR

Longe de suas famílias há dias, semanas e até meses, venezuelanos que vivem em um abrigo em Boa Vista decidiram se unir para preparar uma ceia natalina especial com um sabor que os fizesse aliviar uma fome diferente: a saudade de casa.

Cerca de 23 imigrantes passaram três dias organizando a ceia tipiciamente venezuelana. Ao todo, eles prepararam quase 200 refeições que contém ingredientes típicos da culinária do país natal como farinha de trigo, de milho, e frango.

Os pratos serão servidos às 23h deste sábado (24) no Centro de Acolhimento ao Imigrante, que fica no bairro Senador Hélio Campos, na periferia da cidade. O local foi inaugurado neste mês pela ONG Fraternidade Sem Fronteiras.

Depois da ceia, eles devem ainda distribuir parte das refeições que fizeram a venezuelanos que estão desabrigados e vivem em ruas e praças de Boa Vista. Eles também entregaram durante a manhã refeições em um outro abrigo para imigrantes venezuelanos na capital.

O imigrante Francisco Zambruno, de 40 anos, que é um supervisor do abrigo, conta que saiu da Venezuela há exatos três meses e 18 dias. Lá, ele deixou dois filhos e a esposa, para buscar uma vida melhor. Hoje, convive com a saudade de casa e de ter a família por perto.

Fracisco Zambruno diz que este natal será diferente: 'no ano passado, na Venezuela, não tive ceia na minha casa' (Foto: Emily Costa/G1 RR)Fracisco Zambruno diz que este natal será diferente: 'no ano passado, na Venezuela, não tive ceia na minha casa' (Foto: Emily Costa/G1 RR)

Fracisco Zambruno diz que este natal será diferente: 'no ano passado, na Venezuela, não tive ceia na minha casa' (Foto: Emily Costa/G1 RR)

"No meu último Natal não teve ceia, porque no meu país não há comida para quem não tem dinheiro. Porém, estava com minha família. Hoje, estou aqui só", conta Francisco Zambruno com os olhos cheios d'água.

Ele explica que a ceia que será servida no abrigo é aguardada com ansiedade pelos 145 imigrantes que vivem no local. Ele acredita que ela será uma forma de lembrar de casa e de algum jeito amenizar a saudade que é comum a todos os moradores.

"Muitos venezuelanos vêm para cá sem a família, vêm sozinhos e por isso a ceia de hoje será muito importante. Vai aliviar a saudade de muitos de nós".

Emocionada, a venezuelana Keila Gomez, de 17 anos, se descreve como triste e ansiosa pela ceia natalina que ajudou a preparar. No abrigo, ela vive com as filhas de 1 e 3 anos e o marido, mas não se esquece do pai e da mãe que estão na Venezuela e não terão ceia na noite de natal.

Keila Gomez mora no abrigo com as filhas e o marido; ela diz que está ansiosa para a ceia: 'estaremos todos unidos'. (Foto: Emily Costa/G1 RR)Keila Gomez mora no abrigo com as filhas e o marido; ela diz que está ansiosa para a ceia: 'estaremos todos unidos'. (Foto: Emily Costa/G1 RR)

Keila Gomez mora no abrigo com as filhas e o marido; ela diz que está ansiosa para a ceia: 'estaremos todos unidos'. (Foto: Emily Costa/G1 RR)

"Estou feliz porque irei lembrar de casa neste natal, mas triste pela minha família que ainda está na Venezuela. Ainda hoje minha mãe me mandou mensagem e disse que as coisas estão muito caras lá e que ela e meu pai não terão ceia hoje. Isso me dói muito, é muito forte".

Imigração em massa

Desde o final de 2015, Roraima enfrenta o desafio de receber um grande e crescente número de imigrantes venezuelanos que entram no Brasil pela fronteira do estado. Eles fogem da fome, do desemprego e da falta de serviços de saúde no país governado por Nicolás Maduro.

De janeiro a outubro de 2017, mais de 14 mil venezuelanos já fizeram o pedido de refúgio em Roraima. O número seis vezes maior do que o registrado em 2016. Com o aumento da crise econômica e política no país vizinho, este ano a procura já é quase cinco vezes maior que a soma de todos os pedidos feitos de 2014 a 2016.

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